Durante encontro de
auditores-fiscais deste ano, proposta é realizar 1ª corrida contra o trabalho
escravo e discutir temas como a precarização da legislação e escravidão
moderna.
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Mato Grosso está no segundo lugar
no ranking nacional de trabalho em condições análogas às de escravo, com um
total de 6.129 trabalhadores resgatados no período de 1995 a 2017. Só nos últimos
três anos, foram 145. Os flagrantes que antes se concentravam em propriedades
rurais, atualmente estão mais frequentes em indústrias, empresas e na
construção civil.
Para a presidente do Sindicato
Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (Sinait), Rosa Jorge, o período
eleitoral está sendo um momento de a sociedade voltar a discutir o tema, já que
existem propostas de candidatos que visam precarizar ainda mais as condições de
trabalho, potencializando o problema para quem já está ‘vulnerável’, como imigrantes,
refugiados, empregados domésticos e do campo.
Cenas de trabalho infantil são
frequentes no Brasil, onde a escravidão moderna persiste sob várias formas
'invisíveis'.
Além de conseguir a aprovação da
reforma trabalhista e a ampliação da flexibilização no serviço terceirizado,
Rosa explica que o setor empresarial está buscando meios para mudar o artigo
149 do Código Penal, com o intuito de amenizar as penalidades para quem for
flagrado mantendo funcionários em condição degradante e indigna. Outra
preocupação dos auditores-fiscais é com a extinção da lista suja do trabalho.
“Onde está hoje a escravidão no
nosso país? Na roupa que vestimos, na comida que comemos, direta ou
indiretamente nos vários serviços que chegam até nós e que escondem essa face
oculta e vergonhosa da exploração do trabalho e da saúde do outro. Tudo isso em
benefício do lucro desmedido de grupos econômicos e multinacionais, mas nenhum
país no mundo cresce com sustentabilidade sem garantir conquistas sociais”.
Rosa Jorge avalia que neste um
ano de aprovação da reforma trabalhista não houve qualquer avanço em número de
empregos, pelo contrário, as grandes empresas promoveram demissões em massa
para substituir o vínculo formal de milhares de trabalhadores por outro
precário. Foi um ano emblemático, que marcou a retirada de direitos básicos
conquistados pelo trabalhador, como 12º salário e férias. “Vivemos um momento
delicado, em que se discute inclusive a extinção do Ministério do
Trabalho”.
Aprovada há um ano, reforma
trabalhista retirou direitos, mas não aumentou número de oportunidades formais.
Trabalhador se tornou 'invisível'.
O auditor-fiscal do Trabalho,
Valdinei Arruda, diz que em 20 anos nunca se investiu tão pouco na estrutura
das superintendências brasileiras de combate ao trabalho escravo. Dos mais de 6
mil servidores em todo o país, até a década de 90, hoje são pouco mais de 2,3
mil. Em Mato Grosso, não passam de 45, para dar conta de toda extensão
territorial. Há mais de seis anos é cobrado um novo concurso público para
suprir as baixas acarretadas por aposentadorias.
Com menos recursos, veículos
sucateados e escassez de diárias, a superintendência estadual busca manter ao
menos duas grandes ações voltadas ao trabalho análogo ao escravo por ano,
quando seriam necessárias entre seis e dez. Também tem que dar conta de atender
demandas importantes, como fiscalização e prevenção a acidentes de trabalho e
trabalho infantil.
“Mesmo com tantas limitações,
estamos com várias frentes de atuação e uma delas é voltada para identificar
trabalhadores afetados pelo uso indiscriminado e inadequado de agrotóxico. Com
apoio da UFMT, já montamos um procedimento que consegue detectar, por meio de
exames clínicos, que está havendo muitos prejuízos à saúde de funcionários
expostos a esse veneno e vamos atuar grandes propriedades que não estiverem
respeitando a saúde humana”, frisa o auditor-fiscal.
Mesmo com os avanços, um setor da
agricultura e da pecuária resiste a abandonar velhas prática e é responsável
por grande parte das denúncias de trabalho degradante e indigno, principalmente
na confecção de cercas e desmatamento ilegal, que em geral promovem o
isolamento do ‘funcionário’ em locais de difícil acesso e onde o que vale mesmo
é a lei do patrão.
Em Mato Grosso, 2º no ranking de
trabalho escravo, maior problema ainda é no campo.
“Essas pessoas muitas vezes não
têm acesso à água potável, alimentação regular, dormem ao relento, são impedidas
de ir e vir, porque a promessa de pagamento é apenas no final da empreitada,
ficam expostas ao sol, trabalham finais de semana, em uma jornada sem descanso
e sem qualquer respeito à saúde”.
Ranking perverso
Em 2017, 81 pessoas foram
resgatadas em 13 municípios mato-grossenses em situação análoga à escravidão, o
que representou 20% do total de resgates realizados em todo país, com 406
trabalhadores flagrados nesta situação. No ano passado foram feitas 12
operações e 27 fiscalizações no estado, que resultaram em mais de R$ 500 mil em
multas e 270 autos de infração.
Dentre os 13 municípios, Juara
foi o mais visitado. Também houve casos de exploração em Confresa, Tangará da
Serra, Santa Cruz do Xingu, Nova Bandeirantes, Tabaporã, Pontal do Araguaia,
Guarantã do Norte, Colniza, São Félix do Araguaia, Nova Santa Helena, Porto dos
Gaúchos e Nova Maringá.
Confresa já foi pauta nos
noticiários do país onde foram encontrados 1.348 trabalhadores nessas
condições, entre os anos de 2003 e 2017. Os dados são do Observatório Digital
do Trabalho Escravo no Brasil, ferramenta online lançada no mês de maio pelo
Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do
Trabalho (OIT).
1ª Corrida contra Escravidão
O processo de ‘escravidão
moderna’ e precarização da estrutura de fiscalização foi discutido nesta
sexta-feira (14) por auditores-fiscais de todo país, durante o lançamento da 1ª
Corrida Contra a Escravidão, que ocorrerá no dia 20 de novembro, em Cuiabá,
paralelamente à 36ª Edição do Encontro Nacional de Auditores-Fiscais do
Trabalho (Enafit).
A data foi estrategicamente
escolhido por ser o Dia Nacional da Consciência Negra e fazer referência à
morte de Zumbi dos Palmares, um símbolo da luta e resistência dos negros
escravizados no Brasil. O objetivo é contribuir para a conscientização da
sociedade sobre a importância da manutenção da dignidade humana, como meio de
resolver conflitos sociais que geram violência e pobreza.
É importante lembrar que Mato
Grosso só perde em número de resgatados no ranking nacional para o estado do
Pará, onde ocorreram mais de 12 mil resgates. A proposta do Sinait é de que o
esporte de rua dê mais visibilidade à luta dos auditores contra todas as formas
de trabalho forçado e ganhar a adesão ao movimento de uma parcela maior da
sociedade que ainda não se atentou para o problema.
Tem sido frequente encontrar
trabalhadores, principalmente imigrantes,
em situação indigna trabalhando
na indústria de vestuário.
Mãe Bonifácia
A largada da corrida será no dia
20 de novembro, nas imediações do Parque Mãe Bonifácia, o maior e um dos mais
frequentados da capital mato-grossense. Mãe Bonifácia foi uma negra alforriada
que viveu em Cuiabá no final do século 19 e que teve papel importante na luta
dos escravos daquela época.
A corrida contará com as
distâncias de 5 e 10 quilômetros e caminhada em percurso ainda a ser aprovado
pelo órgão de mobilidade urbana. As inscrições, num total de 1.000 podem ser
feitas pelo link: https://www.ticketagora.com.br/e/1-Corrida-Contra-A-Escravidao-6750
36º Enafit
O Enafit deste ano será realizado
em Cuiabá, de 18 a 23 de novembro, vai reunir auditores-fiscais do trabalho de
todo o Brasil no Centro de Eventos do Pantanal. Com o tema “Auditor-Fiscal do Trabalho
– Autoridade Trabalhista a serviço da sociedade”, o evento contará com uma
extensa e diversificada programação. Na abertura, Leandro Karnal apresentará a
palestra “No Brasil de hoje: a importância do trabalho para o indivíduo e para
a sociedade”. Karnal é historiador, professor da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), especializado em História da América.
A programação segue com destaque
para as implicações do eSocial na Auditoria-Fiscal do Trabalho e para reforma
trabalhista, que completa em novembro um ano de vigência, além das questões do
trabalho escravo e infantil e a segurança e saúde no trabalho. Detalhes sobre o
evento neste link: https://www.enafit.com.br/
Rose Domingues/Agencia de Noticias
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