Cerca de 700 pessoas participaram de velório em Apuí (Foto: Ivanir Valentim/TV Amazonas)
Os corpos dos três homens encontrados em uma cova na Terra Indígena Tenharim-Marmelo, situada no Sul do
Amazonas,
foram enterrados na manhã desta quinta-feira (6) em três cidades do
estado. Os sepultamentos foram marcados por protesto e pedidos de
justiça. O trio estava desaparecido há quase dois meses.
Minha luta não parou. Vou usar o nome dele enquanto tiver forças para lutar"
Célia Leal, viúva de vítima
Os corpos foram encontrados no dia 3 de fevereiro por um cão farejador. Cinco indígenas da etnia Tenharim estão presos em
Porto Velho
suspeitos dos assassinatos. O crime pode ter sido uma retaliação dos
índios pela morte do cacique Ivan Tenhariam, encontrado morto na BR-230
(Rodovia Transamazônica) no início de dezembro.
O corpo do representante comercial Luciano Freire começou a ser velado
na casa da irmã em Porto Velho (RO), na tarde de quarta-feira (5).
Depois o corpo seguiu para o município de
Humaitá, onde foi enterrado nesta quinta-feira (6). Cerca de 100 pessoas acompanharam o sepultamento.
Luciano foi enterrado em Humaitá; família estava muito comovida (Foto: Keyla Xavier/TV Rondônia)
Já em
Apuí,
o enterro do professor Stef Pinheiro de Souza reuniu aproximadamente
700 amigos e familiares no cemitério localizado no bairro São Sebastião.
Revoltados, os presentes fizeram um protesto pedindo justiça pelas três
mortes. Eles pediram ainda o fim do pedágio na BR-320, cobrado pelos
indígenas.
Na capital, foi sepultado o funcionário da Eletrobras Amazonas Energia,
Aldeney Salvador, no Cemitério Parque Tarumã, Zona Oeste de Manaus. Ao
G1,
a viúva da vítima, Célia Leal, 42, pediu paz em Humaitá. "Sempre
suspeitei que ele estava morto. Agora só peço que não tenha represália
com os filhos de Humaitá. O povo não quer ser visto como vândalo, só
buscava uma ação das autoridades para que os corpos fossem encontrados.
Minha luta não parou. Vou usar o nome dele enquanto tiver forças para
lutar", declarou.
Segundo a viúva de Aldeney, as três famílias estão unidas e devem pedir
indenização na justiça. "Vamos esperar passar o luto, mas estivemos
unidos nestes 50 dias de batalha e vamos continuar. Chegamos a ir na
aldeia pedir justiça e podemos até ir lá mais vezes. Vamos verificar o
que pode ser feito judicialmente", explicou.
Familiares e amigos de Aldeney participaram de cortejo nesta quinta (Foto: Camila Henriques/G1 AM)
Presente no velório, o presidente da comissão de crise do Distrito de
Santo Antônio do Matupi, Samuel Martins, afirmou que agirá para acabar
com o pedágio na Transamazônica. "Desde o início estamos lutando para
uma solução nessa área. Estamos satisfeitos com o trabalho da Polícia
Federal, mas a situação de paz com os índios é condicional. Não queremos
mais pedágio, é um risco", disse.
O medo de trabalhar na região também ficou mais intenso com os
conflitos, segundo a colega de trabalho de Aldeney, Ana Paula Melo, de
26 anos. "Os suspeitos foram audaciosos. Se o pessoal da Eletrobras, já
tinha medo de ir para o interior, esse receio triplicou", afirmou. O
diretor de geração e distribuição no interior, Radyr Oliveira, afirmou
os treinamentos para lidar com situações do tipo serão intensificados na
Eletrobras.
Protesto marcou enterro em Apuí, no Sul do Amazonas (Foto: Ivanir Valentim/TV Amazonas)