Além
das questões que envolvem diretamente a frota, os custos com frete da
safra de grãos do Centro-Oeste brasileiro são pressionados por um outro
fator: a escassez de caminhoneiros no mercado. Segundo entidades de
classe ouvidas pelo Valor, o déficit de motoristas nas empresas
transportadoras já gira em torno de 10% a 15%, e tende a crescer nos
períodos de safra.
“Esse é o grande gargalo. Há empresa de
transporte com caminhões parados no Estado”, disse Miguel Mendes,
diretor-executivo da Associação dos Transportadores de Cargas do Mato
Grosso (ATC). Ele estima que seriam necessários dois mil motoristas para
equacionar o mercado. “Depois do combustível, que representa cerca de
50% dos custos do frete, a mão de obra é o que mais pesa, respondendo
por 20% do valor total”.
A falta de mão de obra ocorre há uma
década, diz Antonio Wrobleski Filho, dono da transportadora Support
Cargo. Mas o problema foi mais sentido no ano passado, com a entrada em
vigor da chamada “Lei do Caminhoneiro”, que regulamentou a profissão de
motorista – e restringiu o número de horas de serviço dos condutores.
Desde então, as empresas têm ido ao mercado para contratar mais. “Se não
se fizer nada, em cinco anos vamos ter um verdadeiro caos logístico”,
afirma.
Atrás da escassez de profissionais está a
periculosidade de profissão, a baixa qualidade de vida (privação do
convívio familiar) e, mais recentemente, a baixa escolarização dos
motoristas. Isso porque os novos caminhões são muito mais sofisticados,
com computador de bordo e outros apetrechos, o que exige uma formação
que boa parte dos motoristas não tem. De acordo com a ATC, cerca de 70%
da frota de caminhões de Mato Grosso é nova – e mais sofisticada – para
suportar as condições ruins das estradas.
“Não existe muito mais a sucessão de pai
para filho nessa profissão”, diz Mendes. Segundo ele, a maioria dos
caminhoneiros tem hoje entre 30 e 50 anos – embora predominem os mais
velhos dentro dessa faixa etária – que migraram do Sul e do Nordeste
para se estabelecer no Centro-Oeste.
Mendes afirma que sua associação tem
defendido junto às montadoras o fornecimento de simuladores parecidos
com os que são exigidos agora para o veículo de passeio. Segundo ele,
essa pode ser uma medida eficaz para minimizar a carência de formação
dos motoristas. “As montadoras fazem treinamentos específicos para os
seus produtos, mas não precisamos de qualificação, mas de formação”.
Ainda assim, muitos motoristas continuam
sendo contratados durante a safra, apesar das deficiências no
conhecimento dos veículos, por “desespero”, afirma.
Outro problema que dificulta o
planejamento do escoamento é a falta de armazenagem na região. Isso faz
com que a necessidade de mais caminhões se concentre no período da
colheita, elevando drasticamente a demanda e encarecendo o frete da
safra de grãos.
Fonte: Valor Econômico