Aos 86 anos, Paixão Côrtes fala sobre o MTG e as novas gerações.
Folclorista é pioneiro no resgate das tradições do Rio Grande do Sul.
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O movimento tradicional foi criado para ser um movimento. Não é estanque"
Paixão Côrtes, folclorista gaúcho
“Era 7 de setembro e peguei em casa um cabo de vassoura. Quebrei, enrolei um pano na ponta e embebi de querosene. Era de uma rusticidade, de uma simplicidade que tinha de ser. Então cheguei até a solenidade, guardada pela Liga de Defesa Nacional. Subi a pira e lá de cima via-se aquela massa de povo. Solenemente me perfilei, acendi um candeeiro e fiz um sinal, assim, da esquerda para a direita. Foi o momento de maior emoção da minha vida”, lembrou, emocionado, Paixão.
Há algum tempo ele já respondia pelo departamento das tradições gaúchas do colégio Júlio de Castilhos na capital. Com 20 anos, ao lado de alguns amigos, buscava resgatar costumes esquecidos pela sociedade da época. “Houve um tempo em que se esperava exterminar com tudo que era velharia. Era a invasão da música europeia, do cinema, dos discos. Sentimos esse impacto do abandono das raízes e resolvemos reagir como jovens”, contou.
Segundo o folclorista, somado a outros estados e países, o MTG une mais de 8 milhões de pessoas. “O movimento tradicional foi criado para ser um movimento. Não é estanque, parado, fixo. As correntes que chegam hoje devem se adaptar, elas fixam e reaparecem”, completa.
criação do Movimento de Tradições Gaúchas
(Foto: Rosana Orlandi/RBS TV)
Entusiasta da ligação entre o passado e o presente, Paixão é também um crítico da sua criatura. Para ele, os Centros de Tradições Gaúchas que atuam somente pelas regras são motivo de “imensa tristeza”.
“O povo é livre e deve expressar o sentimento que vem da alma e do coração. O regionalismo só vai ser grande quando for universal, quando as pessoas se apropriarem das heranças, é o somatório que vai engrandecer. Quando se colocam regras, deixam-se passar as importâncias e não as coisas fúteis”, criticou.
Muitos locais que cultuam as tradições acabam se agarrando às normas, desde as vestimentas até os trejeitos. Apesar de andar pilchado, Paixão defende que não são apenas os simbolismos que caracterizam um gaúcho. “Só vou ser compreendido a partir do momento que compreender quem sou. E eu sou gaúcho o ano inteiro. Os países europeus são grandiosos porque são grandes nas tradições. Eles encontram nas pessoas que reergueram, as respostas. E se inspiram”, compara.
Com a idade avançada, sem perder a vitalidade que faz de Paixão um apaixonado pela história que ele mesmo construiu, o homem conta com as futuras gerações para continuar o legado. “Precisamos, acima de tudo, tomar consciência das nossas origens e depois atualizar os conhecimentos”, finaliza.