Dependente de ventilação, Débora morou quase toda a vida em uma UTI.
Família conseguiu na Justiça que Estado pagasse por serviço domiciliar.
Apesar de não mover as pernas e precisar de ventilação mecânica, Débora mexe os braços, sorri, faz birra e até interage piscando os olhos. "O que nos surpreende é que Débora tem a cabeça normal de uma criança de três anos. A distrofia não evoluiu e as funções cognitivas não foram afetadas", explica e pediatra intensivista Patrícia Lizandro. Quando chegou ao hospital com nove meses, a criança passou por exames, que foram enviados para São Paulo para análise. Os resultados indicaram que de fato Débora sofre de uma distrofia. O fato de interagir com todos fez da menina um 'xodó' da UTI.
(Foto: Conceição da Silva/Arquivo Pessoal)
Além de recorrer à Justiça, para tirar a filha da UTI, Maria da Conceição precisou comprar um apartamento que comportasse os equipamentos necessários para a ventilação mecânica. A casa em Nova Parnamirim, na Grande Natal, foi trocada por um apartamento no bairro Santa Tereza, também em Parnamirim, onde Débora enfim poderá morar com a mãe e o pai, que trabalha como porteiro. Uma equipe formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeuta e nutricionista acompanhará a menina diariamente.
ambulância (Foto: Felipe Gibson/G1)
Pacientes como Débora são chamados de crônicos. Quando as famílias não têm condição financeira de pagar por um serviço como o home care, que custa em média mais de R$ 25 mil mensais, a única saída encontrada tem sido a Justiça. Maria da Conceição só foi informada que poderia levar a filha de volta para casa quando soube do caso de uma mãe que ganhou o direito ao home care judicialmente.
"Falei com essa mãe, procurei um advogado e consegui", explica Conceição, que recebeu a notícia da decisão judicial favorável há dois meses. Desde então foram diversas reuniões entre a empresa que presta o serviço Home Care e o hospital. "A transição foi muito bem orquestrada", conta a pediatra.
Falta de leitos
Mais do que uma conquista para a família, a saída de Débora representa a desocupação de um leito de UTI no hospital. Sem perspectivas de alta, as crianças com patologias crônicas ficam em vagas que poderiam ser destinadas a pacientes agudos, que prejudica a rotatividade nos leitos. "Um número da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) mostra que para cada leito crônico, de 50 a 100 vidas deixam de ser atendidas", afirma Patrícia.
(Foto: Felipe Gibson/G1)
Mesmo se o Estado pagasse o tratamento das crianças em casa, a médica Patrícia explica que existem outros problemas. "Muitas vezes falta interesse das mães e também tem a questão da infraestrutura dos imóveis. Famílias mais carentes não têm estrutura para receber as crianças em casa", reforça. Para a pediatra, a maior angústia profissional é não ter as vagas necessárias para atender os pacientes. "Quando digo não tenho vaga é como assinar um óbito. Crianças morrem por falta de leitos no Rio Grande do Norte", encerra.