Mulher cortou o pulso da menina e a asfixiou. Crime foi em Pirapozinho e a aposentada ainda tentou se matar.
de Heloise Hamada
Por volta das 18h, a Polícia Militar foi atender uma ocorrência de tentativa de suicídio às margens da Rodovia Assis Chateaubriand, próximo ao km 463, onde uma mulher "tentava de todas as formas" se jogar na frente dos carros, mas havia sido contida por uma pessoa.
Segundo o Boletim de Ocorrência, uma testemunha afirmou aos policiais que "havia visto que sob um arbusto tinha uma toalha branca colocada na cerca e o corpo de uma criança estava envolto em um edredom". A pessoa ainda relatou que viu o "corpo de uma menina, vestida, uma boneca ao lado e, a cerca de um metro, viu uma faca daquelas utilizadas em cozinha, cabo de madeira, em meio a uma grande quantidade de sangue".
Em um dos galhos ao arbusto viu um fio pendurado, viu a toalha na cerca, uma lanterna ligada colocada em uma árvore, com foco para a rodovia. Também foram localizados uma bolsa de criança rosa, com roupas infantis, fraldas, mamadeira vazia, garrafa com água, e dentro ainda continha uma outra bolsa com chaves e cartela de um remédio controlado.
A menina "apresentava ferimento severo no pulso esquerdo". O Corpo de Bombeiros foi acionado e a mulher socorrida, já que tinha lesões na perna direita e no pulso esquerdo. No B.O. ainda consta que a avó da vítima pedia para ser morta. Ela foi levada para o Hospital Regional de Presidente Prudente, onde permaneceu internada.
A Polícia Civil foi ao local do crime e constatou a morte da menina Ana Júlia Queiroz da Silva, que faria 3 anos no próximo dia 10. O pai da criança e filho da acusada, de 25 anos, foi localizado. Ele relatou que foi casado com a mãe de sua filha e após a separação pagava pensão alimentícia e voltou a morar na casa da mãe, na Vila Industrial, em Prudente. O acordo entre as partes era que ele ficaria com a menina aos finais de semana, pegando a criança sexta-feira e devolvendo no domingo à noite.
Neste final de semana, Ana Júlia foi para sua casa e "também como de costume ficou sob os cuidados da avó". A mulher e a criança dormiam na mesma cama. O rapaz disse que acordou por volta das 10h e notou a ausência das duas e "pensou que elas estivessem com sua irmã". Porém, próximo ao almoço, a irmã chegou e disse que não estava com elas. Ele passou a procurá-las, tentou fazer um registro de desaparecimento, porém, foi orientado a continuar procurando.
Depois, ele foi ao quarto da mãe e encontrou "cartas dirigidas a ele e outras pessoas, onde, de maneira resumida, a mãe dava adeus e dizia que algo de ruim iria acontecer". Então, ele e a ex-esposa procuraram a Delegacia Central de Prudente e fizeram o registro do desaparecimento. Logo depois a acusada foi localizada e os dois receberam a notícia da morte da filha.
O filho da autora afirmou que "havia discutido algumas vezes com sua mãe, que achava que a neta era maltratada pela mãe e desejava que ele pedisse a guarda, fato que ele dizia que não poderia fazer, pois a mãe da vítima não praticava nenhum ato que permitisse a inversão da guarda". Essa questão, de acordo com ele, "gerava grande conflito".
Nas cartas apreendidas, o delegado informou que, "em frases confusas, ela deixava clara a intenção do suicídio". A autoridade policial foi até a residência da família e constatou que era um local "limpo, muito organizado, geladeira farta, com vários alimentos destinados à criança, grande quantidade de leite e suplementos infantis". No quarto havia roupas para crianças e muitos brinquedos.
"Observei uma casa e família cuidadosa com a criança, inclusive chequei o conteúdo de duas câmeras fotográficas, nelas havia inúmeras fotografias, todas da criança com a família, demonstrando grande alegria e atenção".
Foi averiguado que na residência não havia sinais de violência e nada havia sido lavado. A Polícia Civil foi ao hospital e manteve contato com a aposentada. Segundo informa o Boletim de Ocorrência, "ela embora muito triste estava mentalmente orientada, falou detalhes da vida corriqueira, se localizou espacialmente, disse nome dos filhos, nome da neta falecida e outros dados de orientação. Ela confessou o delito, disse que usou a faça para cortar os pulsos da vítima, percebeu que ela não morria e, assim, pegou uma fralda, cobriu o nariz e a boca da criança e com a outra mão apertou o pescoço até sufocá-la".
A acusada ainda explicou que saiu por volta das 9h30, pegou um ônibus para Pirapozinho, desceu próximo a um hotel fazenda, "foi até a sombra de um arbusto médio e, após brincar com a vítima, deu-lhe leite em uma mamadeira, biscoito e depois de pensar por uma duas horas, tomou a decisão final".
A morte, conforme a aposentada, teria sido por volta das 13h. Ela também falou que "fez tal ato por entender que a neta era maltratada e que tirando sua vida, lhe pouparia sofrimento". A mulher informou que pegou a mesma faca que usou na neta e tentou cortar o pulso e perna, porém, "não teve êxito".
"Assim, resolveu se dirigir à rodovia para tentar o atropelamento, entretanto, foi contida". A mulher confessou que "acreditava que iria para o céu com a neta e lá ficaria com ela". A mulher disse ter ingerido o mesmo medicamento que deu para a criança. Ela contou que "colocou a lanterna no arbusto ligada com foco para a rodovia e que também colocou a toalha na cerca, pois, após sua morte, desejava que a neta fosse localizada e enterrada devidamente".
O médico legista constatou a morte da menina por hemorragia e asfixia mecânica, "corroborando com a declaração da autora".
A Polícia Civil afirmou que "não existe elementos que indiquem a participação de outra pessoa na morte da criança ou que ela tenha sido instigada ou auxiliada por outro". Também foi descartado a prática de ritual ou que ela fizesse parte de uma seita ou seguisse alguma doutrina suicida.
As cartas ela ressaltou que foram escritas na sexta-feira (30) e que planejava o assassinato há cerca de um mês. A mulher foi presa em flagrante por homicídio qualificado. Ela já teve alta do HR e foi levada para a Delegacia de Pirapozinho, onde novamente será ouvida. Depois, ela será encaminhada para a Cadeia de Dracena, para posterior remoção ao Presídio de Tupi Paulista.