2020/03/04

Hospital do Câncer de MT suspende tratamentos por falta de dinheiro

Segundo a administração, a Prefeitura de Cuiabá deve R$ 6,8 milhões, acumulados desde junho de 2018.
Mesmo com a sessão marcada, pacientes oncológicos estão voltando para casa sem fazer a quimioterapia. Eles estão sendo dispensados do Hospital do Câncer de Mato Grosso, sem expectativa de retorno, com a justificativa de que o problema é a falta de dinheiro para comprar os remédios.

Conforme o balanço da unidade, o débito chega a R$ 6,8 milhões, acumulados desde junho de 2018.

No valor, estão os repasses por serviços, incentivos e ainda emendas parlamentares que caíram na conta da Prefeitura de Cuiabá, mas que não teriam sido transferidas para o hospital, que atendeu 107.326 pessoas somente no ano passado.

Responsável técnico pelo setor Hematológico, o médico André Crepaldi diz que as quimioterapias foram suspensas esta semana porque não há mais como custear o serviço.

Atualmente, 600 pacientes estão com tratamento em andamento e foram diretamente atingidos pela decisão.


Os estoques não têm mais remédios para realização de quimioterapias no setor de hematologia  (Foto: Freepik)
“O impacto logo será sentido nos demais setores do hospital e em muitos serviços nos quais o hospital é referência, como de oncologia infantil”, avalia o profissional.


Segundo Crepaldi, os prejuízos da paralisação são incalculáveis e vão, desde a demora na cura, até a aceleração da morte, uma vez que, em casos graves, o tumor pode aumentar e a doença evoluir.

Balanço detalhado
Entre os débitos da Prefeitura de Cuiabá com o Hospital do Câncer estão:

Incentivo de Valorização por Qualificação Profissional (desde julho de 2018) – R$ 693.422
Serviços de endoscopia/coloscopia (desde setembro de 2019) – R$ 276.455
Serviços ambulatoriais (novembro e dezembro de 2019) – R$ 3,6 milhões
Serviços em média e alta complexidade (dezembro de 2019) – R$ 168.526
Emenda parlamentar que caiu na conta da prefeitura dia 26 de dezembro – R$ 1,6 milhão
Emenda parlamentar que caiu na conta da prefeitura dia 30 de dezembro – R$ 400 mil.

 Prefeitura de Cuiabá tem débitos somados desde 2018 e não há prazo definido para pagar (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Desespero de quem corre contra o tempo
No grupo de pessoas atingidas estão incluídos pacientes de Cuiabá e também do interior. Alguns estão começando o tratamento e outros foram surpreendidos no meio do processo.

Desespero de quem corre contra o tempo
No grupo de pessoas atingidas estão incluídos pacientes de Cuiabá e também do interior. Alguns estão começando o tratamento e outros foram surpreendidos no meio do processo.

O estudante Matheus Silva Oliveira, 24, conta que chegou para fazer a terceira sessão de quimioterapia no setor de hematologia e foi informado que não haveria medicação. Na ocasião, a recepção estava repleta de pacientes, que também ficaram desesperados com a situação.

“Eu falei com a minha médica e ela disse que, dependendo do tempo de atraso, pode haver reflexos no meu tratamento. Quero apenas continuar e poder me curar”, desabafa.

Segundo o paciente, o que mais o deixou preocupado foi a falta de expectativa quanto ao retorno. Os funcionários encaminharam os pacientes para a Ouvidoria e, lá, nada de concreto foi passado.

“Disseram apenas que precisamos esperar um retorno, porém não sabemos até quando”, relembra.

Apenas um problema recorrente
Presidente do MT- Mamma, Cleuza Dias conta que a situação dos pacientes oncológicos tem piorado muito nos últimos anos. Na avaliação dela, isso aconteceu por conta de um desequilíbrio. Enquanto o número de pacientes aumenta, o serviço público diminui o número de atendimento e de leitos.

Ela explica que casos como o de Matheus foram recorrentes ao longo do ano passado. E os problemas não são apenas no Hospital do Câncer, mas sim no sistema público como um todo.

“Tivemos uma paciente que morreu porque ficou três dias acomodada no pronto-atendimento, esperando um leito de UTI. Ela faleceu sem conseguir”, relata.


Santa Casa não tem mais as portas abertas, o que reduziu os locais de socorro aos pacientes (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)


A falta de acesso é justificada pela redução de leitos no Hospital do Câncer, Pronto-socorro de Cuiabá, bem como em outras unidades que antes recebiam os pacientes vindo do Sistema Único de Saúde (SUS).

Outra questão foi a mudança do atendimento no hospital Santa Casa de Misericórdia. Antes, a unidade recebia as pessoas de portas abertas. Agora, apenas regulados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES).

Manifestação
Devido ao cenário cada vez mais complicado, a organização está promovendo a 7ª Marcha Rosa em Cuiabá.

Dias lembra que, mesmo a cor sendo alusiva ao câncer de mama, o objetivo é dar voz aos doentes oncológicos e exigir o cumprimento da lei, bem como a humanização dos serviços.

Aos interessados, a 7ª Marcha Rosa em Defesa dos Direitos da Pessoa com Câncer em Mato Grosso será neste sábado (7).

Concentração: a partir das 7h30
Local: Praça Alencastro
Vestimenta: camiseta rosa ou branca
O que a Prefeitura diz?
A reportagem do LIVRE entrou em contato com assessoria de imprensa da Prefeitura de Cuiabá para saber a versão da administração do município sobre o caso, mas até a publicação desta matéria, não obteve retorno.

O espaço continua aberto a manifestações.

Caroline Rodrigues

olivre

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todos os recados postados neste mural são de inteira responsabilidade do autor, os recados que não estiverem de acordo com as normas de éticas serão vetado por conter expressões ofensivas e/ou impróprias, denúncias sem provas e/ou de cunho pessoal ou por atingir a imagem de terceiros.

Featured post