O comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas (Marcelo Camargo/Agência Brasil) |
Mesmo com o arrefecimento da
greve dos caminhoneiros, os amalucados entusiastas da intervenção militar no
Brasil mantêm sua saga de espalhar por aí que as Forças Armadas estão prestes a
destituir o presidente Michel Temer e tomar o poder. Dois boatos com a ladainha
intervencionista começaram a circular com força no WhatsApp nesta quarta-feira,
30.
Um deles, propagado na forma de
um tosco “comunicado oficial” atribuído ao comandante do Exército, general
Eduardo Villas Boas (foto acima), garante que a intervenção militar já foi
decretada à meia-noite desta quarta-feira e que uma junta militar vai comandar
o país até o dia 31 de dezembro de 2018. Todos os partidos foram extintos, diz
o texto, que inclui até foto de Villas Boas.
Na outra lorota, um áudio
igualmente lunático, um sujeito fala como se fosse Villas Boas e pede aos
brasileiros para irem às ruas às 17h desta quarta-feira, pedindo pela
intervenção. Como resultado, as Forças Armadas interviriam nesta quinta-feira,
31, a partir das 8h. Leia abaixo a transcrição da gravação:
“Brasileiros e brasileiras, aqui
quem fala com vocês é o general de Exército do Brasil, Eduardo Villas Boas.
Estávamos reunidos a semana inteira para tratar da crise dos caminhoneiros
junto ao almirante de esquadra da Marinha, Eduardo Ferreira, e o tenente
brigadeiro do ar da Aeronáutica do Brasil, Nivaldo Rossato, a Constituição
brasileira, em seu artigo 142, dá ao presidente poder sobre as Forças Armadas.
No entanto, esse presidente que se instituiu se instituiu através de um golpe e
não do povo. E atendendo ao clamor popular, nós decidimos que iremos tomar uma
decisão. O que estamos pedindo pra vocês é que nesta quarta-feira, dia 30 de
maio, às 5 horas da tarde, em todas as capitais brasileiras, vocês saiam às
ruas e peçam pela intervenção militar. Dia 31, a partir das 8 horas da manhã,
nós iremos intervir, nós iremos destituir o presidente, junto com o Congresso
Nacional e o Judiciário. Devido à corrupção que se instalou nesse país, faremos
um governo interino e garantiremos a ordem e a segurança. Pedimos aos
brasileiros paciência, porque não sabemos ao certo quanto tempo esse governo
interino vai durar. Porém, nós não faremos golpe e sim convocaremos novas
eleições. Peço ajuda a todos os brasileiros e que Deus nos abençoe”.
O Brasil não está em meio a uma
intervenção militar e nem estará amanhã pela manhã, por mais que as ruas do
país sejam tomadas por intervencionistas com saudades da ditadura. As únicas
manifestações públicas do general Eduardo Villas Boas nesta quarta-feira são
estes três tuítes, um deles de agradecimento aos militares que, por ordem do
presidente da República, atuaram na desmobilização da greve dos motoristas.
Caso os militares tivessem
declarado vaga a Presidência, tal qual o senador Auro de Moura Andrade, em
1964, e decretado a extinção de partidos políticos, haveria uma cobertura
ostensiva, ampla, geral e irrestrita pela imprensa profissional. Não se falaria
em outra coisa no país. Não é nem um pouco razoável a ideia de que um
acontecimento dessa magnitude tenha sido “noticiado” apenas no WhatsApp ou nas
redes sociais.
Além do mais, se a ideia era
fazer alguém acreditar que houve ou haverá uma intervenção militar, as mentes
desocupadas que perderam tempo elaborando o texto e a gravação poderiam ter
caprichado mais no uso da língua portuguesa e na imitação de Eduardo Villas
Boas. Era o mínimo.
Nos breves 42 caracteres do
trecho “declaramos vago à Presidência da Republica”, o boateiro cometeu nada
menos que um erro de concordância nominal, um de acentuação e um equívoco no
uso da crase. Em “com isso assume o Governo do BRASIL as forças armadas e Junta
Militar que governará até o dia 31 de Dezembro de 2018”, há dois erros de
concordância verbal e duas vírgulas ausentes, além de “forças armadas” não
estar grafado em letras maiúsculas. Uma calamidade.
Fora os erros de português no
“decreto”, a voz do homem que anuncia a intervenção militar não tem nada a ver
com a do comandante do Exército. Ouça abaixo a voz de Eduardo Villas Boas, cujo
sotaque e entonação são bem diferentes dos do sujeito que se passa por ele:
Fonte: veja
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