Dentre os processos estão investigações envolvendoo ex-presidente da OAB-MT Francisco Faiad |
A Ordem dos Advogados do Brasil –
Seccional de Mato Grosso (OAB-MT) tem 2.520 processos administrativos contra
advogados em aberto no Tribunal de Ética e Disciplina. Segundo o presidente
entidade, Leonardo Campos, dentre estes processos estão investigações contra
advogados presos ou alvo de mandados de busca e apreensão no Estado.
Um deles é o ex-presidente da
OAB-MT Francisco Anis Faiad, que também foi secretário de Administração na
gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB).
Faiad teve a prisão determinada pela juíza da Sétima Vara Criminal de
Cuiabá, Selma Rosane de Arruda, no dia 14 de fevereiro.
O Ministério Público de Mato
Grosso (MPE-MT) aponta que Faiad atuava na ordenação e execução de esquema para
promover desvio de verbas públicas. Para maquiar o esquema, era registrado o
consumo fictício de combustível dos veículos que compunham a patrulha da
Secretaria de Transportes, diz a denúncia.
O advogado teria recebido R$ 192
mil para manter o contrato de uma empresa fornecedora de combustível com o
Estado. Ele ainda teria feito caixa 2 e desviado R$ 1,7 milhão, dinheiro este
que teria sido utilizado para o pagamento de uma dívida de campanha eleitoral
em 2012, na qual concorria a vice-prefeito na chapa encabeçada pelo ex-vereador
Lúdio Cabral (PT).
A defesa alegou que a prisão foi
“totalmente desnecessária” e que não preencheu os pressupostos do artigo 312 do
Código de Processo Penal, que determina as regras para a prisão preventiva. “A
decisão do Tribunal de acatar o pedido de habeas corpus mostra que a prisão, de
fato, era ilegal, como a defesa já vinha sustentando”, disse Valber Melo, um
dos advogados de Faiad.
Pedofilia
Ainda no mês de fevereiro, outras
ocorrências envolvendo advogados foram registradas pela polícia. Uma delas
ocorreu no dia 17, quando o advogado da cidade de Sinop (480 km de Cuiabá)
identificado pelas iniciais V.M., de 50 anos, foi preso em flagrante com duas
garotas de 12 e 15 anos em um motel da capital.
Elas relataram que o acusado
estava em uma camioneta próxima a um posto e as teria chamado para um programa
sexual em troca de “guloseimas”, dinheiro e bebidas alcoólicas em troca de
sexo.
V.M admitiu, no momento do
flagrante, que teve relações sexuais com a menina de 15 anos, em frente à
menina de 12. A juíza da 9ª Vara Criminal de Cuiabá, Renata do Carmo Evaristo
Parreira, converteu a prisão em flagrante para preventiva. O advogado foi
levado para o Centro de Custódia da Capital.
Mais de 300 já tiveram o
registrado cassado em MT
Até o dia 17 fevereiro deste ano,
existiam cerca de 300 punições acumuladas contra advogados em Mato Grosso. A
lista está no site da OAB-MT e constam as punições ainda em vigor de advogados,
entre suspensões e exclusões.
O presidente da OAB/MT, Leonardo
Campos, afirmou que não é número para se comemorar. “Gostaria que nós não
tivéssemos nenhum um processo no Tribunal de Ética. Mas a mão que faz as
defesas vorazes das prerrogativas é a mesma que punirá o advogado”, disse.
Segundo o presidente, os casos
passíveis das punições mais severas, suspensão e exclusão, são as faltas éticas
cometidas em “dissonância com os preceitos da advocacia” ou quando o advogado
recebe mais de três suspensões transitadas em julgado – quando é definitivamente
excluído da advocacia.
O presidente da OAB-MT afirma que
tem determinado ao Tribunal de Ética e Disciplina a instauração de procedimento
contra profissionais presos ou alvos de mandados de busca e apreensão. O
objetivo, segundo Campos, é evitar pré-julgamentos e preservar a imagem da
instituição.
“Instauramos o devido processo
ético contra todos os advogados que foram noticiados pela imprensa como
envolvidos em alguma operação. Iremos apurar a conduta ética do advogado e, se
ele cometeu desvio de conduta, será punido”, avisou Leonardo Campos.
Conselho Federal
O presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) e do Conselho Federal da OAB, Claudio Lamachia, disse
apoiar que a Ordem abra processos administrativos para apurar possíveis deslizes
de advogados.
Porém, ele ressaltou que todas as
apurações devem ser realizadas em consonância com o princípio constitucional e
respeitando o direito de ampla defesa e do contraditório.
Lamachia destacou também que
muitos advogados estão sendo excluídos dos quadros da Ordem em todas as
seccionais do Brasil e que a OAB tem qualificado os seus quadros e aprimorado
os instrumentos internos de penalização de advogados.
“Assim como a Ordem cobra externamente, ela
tem o dever e a obrigação da sempre que detectar um profissional que esteja de
alguma maneira agindo fora dos parâmetros legais, tomar as providências de
acordo com o seu código de ética”, pontuou Lamachia.
Apropriação de valores é o
deslize mais comum
O presidente do Tribunal de Ética
e Disciplina, João Batista Beneti, explica que os procedimentos demoram, em
média, seis meses para ser concluídos e pode demorar ainda mais, dependendo da
quantidade de recursos impetrados pelas partes. No Tribunal de Ética existem
mais de 2.500, do total de 25 mil inscritos, o que equivale a 10% dos
profissionais, que estão sob investigação.
“Nós autuamos os advogados para
dar toda ampla defesa e do contraditório e é realizada uma audiência de
conciliação. Se não houver entendimento entre as partes, fazemos uma audiência
de instrução e em seguida um julgamento”, esclarece o presidente do Tribunal de
Ética.
Segundo Beneti, o Tribunal de
Ética recebe cerca de 700 denúncias por ano contra advogados e são julgados
anualmente mais de 400 casos. Dessas denúncias, o presidente afirma que a
grande maioria é de reclamações de apropriação de valores dos clientes.
“Esse é o principal deslize
cometido pelo advogado. Aquela apropriação de valores que pertence ao cliente,
não repassa e ele é suspenso. Até que preste contas a esse cliente, ele terá a
suspensão em vigor”, alertou João Batista Beneti.
As outras irregularidades que
mais aparecem são: abandono de causa sem comunicação; falta de transparência e
falta de informações sobre o processo. “E outros fatos, mais ou menos ligados a
esses”, acrescenta João Batista. Beneti afirma também que muitos processos são
arquivados por falta de provas e pelo fato de as denúncias serem
“infundadas”.
Para que as denúncias não sejam
arquivadas, é recomendado que a parte que se sentiu prejudicada apresente, além
da denúncia fundamentada, documentos que comprovem que o profissional deixou de
cumprir alguma exigência. Como provas, podem ser levados os autos do processo,
cópia do contrato de honorários, cópia de petições ou qualquer outro documento
que mostre a relação com o advogado.
Advogados fazem desagravo e
instituições saem em defesa da juíza Selma Arruda
Advogados de todo o país se
reuniram em Cuiabá no final do mês de fevereiro para defender as prerrogativas
dos advogados, após a prisão polêmica de Francisco Anis Faiad.
Para o encontro, vieram o
presidente nacional Claudio Lamachia, o presidente da Comissão Nacional de
Defesa das Prerrogativas, Jarbas Vasconcelos e o presidente da OAB-SP, Marcos
da Costa. Os advogados também emitiram
uma nota de repúdio à juíza Selma Rosane de Arruda, por ter utilizado as prerrogativas
dos advogados como justificativa.
Os advogados argumentam que
quando a juíza utiliza o argumento de que o suspeito é advogado criminaliza a
profissão. “Nós vemos uma criminalização do exercício profissional da
advocacia. Nós estamos esclarecendo a sociedade que isso está errado. Quando se
criminaliza o exercício da profissão do advogado, se está dizendo que o cidadão
não terá mais direito de defesa”, disse Claudio Lamachia.
Críticas contestadas
A juíza Selma Rosane de Arruda,
da 7ª Vara Criminal da Capital, justificou a prisão de Francisco Faiad e diz
que foi decretada em função da “periculosidade da organização como um todo” e
não pelo fato de o investigado ser advogado.
Arruda rechaçou críticas de que
ela estaria criminalizando a advocacia e que no decreto de prisão preventiva
levou em conta as imputações que o Ministério Público do Estado de Mato Grosso
(MPE-MT) faz contra Faiad.
Ela ainda citou a coação de um
colaborador e que a ameaça teria sido a mando da organização criminosa. “Os
componentes dessa organização são todos perigosos e merecem ficar sob custódia
do Estado, até que essas pessoas que estão delatando colaborem em juízo, sem
medo de sofrer represálias, por isso decretei a prisão”, afirmou a magistrada.
A Polícia Judiciária Civil (PJC)
e a Associação Mato-grossense dos Magistrados (Amam) saíram em defesa da
magistrada e classificaram as críticas direcionadas a ela como ‘injustas’. A
Polícia Civil ainda reforçou a coragem da juíza, que tem feito um trabalho
combativo e dentro da imparcialidade inerente ao Poder Judiciário, frente às
organizações criminosas.
A PJC repudiou as críticas e
disse que são compreensíveis as críticas em relação à atuação da magistrada. “É
compreensível que essa atuação, em um país como o Brasil, historicamente
acostumado com os rigores da lei imposta apenas aos menos favorecidos, ser
objeto de críticas e descontentamentos”, diz trecho da nota.
Já a Amam, veio a público para
esclarecer que a juíza não foi punida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
devido à representação encaminhada por Faiad, quando este era presidente da
OAB-MT. O motivo da suposta punição seria a atuação do marido da juíza na Vara
de Execuções Penais de Cuiabá, mas que segundo a Amam era voluntária, sem
nenhum tipo de remuneração.
Felipe Leonel
Circuito MatoGroso
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