Engenheira ambiental diz que solo foi construído em cima de rio.
Moradores do município estão assustados com o incidente.
Após o desabamento de cerca de 30 casas no último sábado (4) em Abaetetuba, no nordeste do Pará, o G1
conversou, nesta terça-feira (7) com a engenheira ambiental Paula
Pinheiro, que condenou a área em que o terreno foi construído. "Não
tinha cheia naquele momento, não tinha ação da maré. Lá é naturalmente
uma área de várzea, uma área ribeirinha. O local foi aterrado com solo
impróprio", explicou.De acordo com a Defesa Civil, 13 casas foram destruídas, 23 imóveis foram desalojados, 78 famílias foram atingidas e 106 pessoas ficaram desabrigadas com o desabamento ocorrido no último sábado (11) no município. Um buraco se abriu e atravessou uma rua no bairro São João, ''engolindo'' as casas ao redor. (Veja o momento em que as casas foram sugadas pelo rio no vídeo acima).
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Para Paula, engenheira da Universidade Federal Rural da Amazônia
(Ufra), o aterramento de todo o bairro não foi feito de forma adequada.
"Eu vi um geólogo falando que as pessoas construíram o terreno com
entulhos, lixo, cacos de telha, argila, matéria orgânica, tudo é
impróprio, o material é impróprio para fixar o solo, não tem sustentação
nem nunca vai ter".Outro agravante da situação seria a construção de imóveis de dois pavimentos, que seriam ainda mais difíceis do solo segurar. Paula ainda considera o grande movimento de veículos no terreno um fator preocupante para a área.
"Tem muita entrada de veículos no bairro, tem um porto. É uma área de muito tráfego, porque tem estaleiro, pontos comerciais. Quando eu morei lá nesse mesmo bairro, ainda era um rio, na minha adolescência foi aterrado o rio, e aí foram construindo casas. Ninguém imagina que vai acontecer uma coisa dessas. Só quem estuda sabe que o solo não tem estrutura pra isso", afirma.
Casas foram engolidas pelo rio Maratauíra (Foto: Yohan Simões/Arquivo pessoal)
Paula tem um tio que mora na área próxima ao bairro São João, onde
ocorreu o desabamento. A casa dele foi interditada e, segundo a
engenheira, não desabou porque foi firmada no dentro do rio. "O bairro
surgiu dessa forma, não exitia uma terra, era a beira de um rio. Ninguém
está construindo uma casa achando que vai cair. Só que a natureza
reage. Aquelas ruas eram pontes", concluiu Paula.Relatos de moradores
O estudante Pedro Simões, de 16 anos, mora no bairro Viação, em Abaetetuba. Ele conta que alguns familiares moram próximo a área onde ocorreu o desabamento. "A mãe do meu tio mora lá, a casa dela está em área de risco. Eu, graças a Deus, não moro em área de risco. Todo mundo está bastante assustado com o que aconteceu".
13 casas foram destruídas e outras 23 precisaram ser desalojadas (Foto: Yohan Simões/Arquivo pessoal)
Rodiney Ribeiro também mora no município de Abaetetuba,
mas na outra extremidade de onde ocorreu o desabamento, no bairro
Algodoal. Ribeiro conta que mora a cerca de 300 metros da beira do rio e
revela: construiu a própria casa em um terreno aterrado com caroço."A gente constrói, cresce de forma desordenada, e não avalia o solo. O alicerce do meu terreno não é bom. Mas a minha casa é pequena, não é de dois andares, eu não colocaria porque eu sei que o terreno não aguenta. Assusta. A gente não costuma ver aqui esse tipo de desastre", conclui.
Erosão "engoliu" casas em Abaetetuba.
(Foto: Arquivo Pessoal/ Fábio Higor Mendes)
Doações(Foto: Arquivo Pessoal/ Fábio Higor Mendes)
A Defesa Civil fez um chamado para que a população contribua com as famílias desabrigadas doando roupas, calçados, alimentos não perecíveis, eletrodomésticos, ventiladores, entre outros.
As doações para os desabrigados de Abaetetuba podem ser feitas até esta sexta-feira (10), de 8 as 12 e de 14 às 18h, no ginásio do Campus II/Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará (Uepa), na Travessa Perebebuí, 2623 - esquina com a avenida Almirante Barroso, em Belém.
Outros pontos de doações são: Prédio da Reitoria (Rua do Una, 156 – Telégrafo) e os campi de Moju (Avenida das Palmeiras, 485 – Aviação) e Barcarena (Rua Tomás Lourenço Fernandes, Quadra 356, Lote 01 - Vila dos Cabanos).
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