2014/01/07

Área que desabou em Abaetetuba tinha aterro irregular, diz engenheira



Engenheira ambiental diz que solo foi construído em cima de rio.
Moradores do município estão assustados com o incidente.

Após o desabamento de cerca de 30 casas no último sábado (4) em Abaetetuba, no nordeste do Pará, o G1 conversou, nesta terça-feira (7) com a engenheira ambiental Paula Pinheiro, que condenou a área em que o terreno foi construído. "Não tinha cheia naquele momento, não tinha ação da maré. Lá é naturalmente uma área de várzea, uma área ribeirinha. O local foi aterrado com solo impróprio", explicou.
De acordo com a Defesa Civil, 13 casas foram destruídas, 23 imóveis foram desalojados, 78 famílias foram atingidas e 106 pessoas ficaram desabrigadas com o desabamento ocorrido no último sábado (11) no município. Um buraco se abriu e atravessou uma rua no bairro São João, ''engolindo'' as casas ao redor. (Veja o momento em que as casas foram sugadas pelo rio no vídeo acima).
saiba mais
Para Paula, engenheira da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), o aterramento de todo o bairro não foi feito de forma adequada. "Eu vi um geólogo falando que as pessoas construíram o terreno com entulhos, lixo, cacos de telha, argila, matéria orgânica, tudo é impróprio, o material é impróprio para fixar o solo, não tem sustentação nem nunca vai ter".
Outro agravante da situação seria a construção de imóveis de dois pavimentos, que seriam ainda mais difíceis do solo segurar. Paula ainda considera o grande movimento de veículos no terreno um fator preocupante para a área.
"Tem muita entrada de veículos no bairro, tem um porto. É uma área de muito tráfego, porque tem estaleiro, pontos comerciais. Quando eu morei lá nesse mesmo bairro, ainda era um rio, na minha adolescência foi aterrado o rio, e aí foram construindo casas. Ninguém imagina que vai acontecer uma coisa dessas. Só quem estuda sabe que o solo não tem estrutura pra isso", afirma.
Abaetetuba Desabamento (Foto: Yohan Simões/Arquivo pessoal)Casas foram engolidas pelo rio Maratauíra (Foto: Yohan Simões/Arquivo pessoal)
Paula tem um tio que mora na área próxima ao bairro São João, onde ocorreu o desabamento. A casa dele foi interditada e, segundo a engenheira, não desabou porque foi firmada no dentro do rio. "O bairro surgiu dessa forma, não exitia uma terra, era a beira de um rio. Ninguém está construindo uma casa achando que vai cair. Só que a natureza reage. Aquelas ruas eram pontes", concluiu Paula.
Relatos de moradores
O estudante Pedro Simões, de 16 anos, mora no bairro Viação, em Abaetetuba. Ele conta que alguns familiares moram próximo a área onde ocorreu o desabamento. "A mãe do meu tio mora lá, a casa dela está em área de risco. Eu, graças a Deus, não moro em área de risco. Todo mundo está bastante assustado com o que aconteceu".
Abaetetuba Desabamento (Foto: Yohan Simões/Arquivo pessoal)13 casas foram destruídas e outras 23 precisaram ser desalojadas (Foto: Yohan Simões/Arquivo pessoal)
Rodiney Ribeiro também mora no município de Abaetetuba, mas na outra extremidade de onde ocorreu o desabamento, no bairro Algodoal. Ribeiro conta que mora a cerca de 300 metros da beira do rio e revela: construiu a própria casa em um terreno aterrado com caroço.
"A gente constrói, cresce de forma desordenada, e não avalia o solo. O alicerce do meu terreno não é bom. Mas a minha casa é pequena, não é de dois andares, eu não colocaria porque eu sei que o terreno não aguenta. Assusta. A gente não costuma ver aqui esse tipo de desastre", conclui.
 erosão pará (Foto: Arquivo Pessoal/ Fábio Higor Mendes)Erosão "engoliu" casas em Abaetetuba.
(Foto: Arquivo Pessoal/ Fábio Higor Mendes)
Doações
A Defesa Civil fez um chamado para que a população contribua com as famílias desabrigadas doando roupas, calçados, alimentos não perecíveis, eletrodomésticos, ventiladores, entre outros.
As doações para os desabrigados de Abaetetuba podem ser feitas até esta sexta-feira (10), de 8 as 12 e de 14 às 18h, no ginásio do Campus II/Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará (Uepa), na Travessa Perebebuí, 2623 - esquina com a avenida Almirante Barroso, em Belém.
Outros pontos de doações são: Prédio da Reitoria (Rua do Una, 156 – Telégrafo) e os campi de Moju (Avenida das Palmeiras, 485 – Aviação) e Barcarena (Rua Tomás Lourenço Fernandes, Quadra 356, Lote 01 - Vila dos Cabanos).

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todos os recados postados neste mural são de inteira responsabilidade do autor, os recados que não estiverem de acordo com as normas de éticas serão vetado por conter expressões ofensivas e/ou impróprias, denúncias sem provas e/ou de cunho pessoal ou por atingir a imagem de terceiros.

Featured post