Júlia Franchini Alday tinha 5
meses de vida quando precisou passar por um transplante total de fígado, para
tratar uma doença chamada atresia de vias biliares. A criança, que mora em
Santos, no litoral de São Paulo, conseguiu encontrar um doador compatível na
família e recebeu 30% do órgão da tia Vitória Franchini, de 21 anos. Contudo,
um mês após o procedimento, Júlia teve que enfrentar um novo desafio, se
recuperar da Covid-19.
A administradora Nathália Franchini,
de 30 anos, conta que, no ano passado, ela e a família viveram uma grande
corrida contra o tempo para salvar a vida da filha. Quando tinha 3 meses, Júlia
foi diagnosticada com atresia de vias biliares, uma doença do fígado que só
poderia ser tratada por meio de um transplante. Segundo a mãe, até o
diagnóstico, os médicos que acompanhavam a menina não consideravam a doença.
Nathália conta que, nos primeiros
dias de vida, Júlia parecia ser uma criança saudável. Por orientação médica, a
menina deveria apenas tomar sol, pois estava com a pele um pouco amarelada. Ao
seguir as orientações, a administradora percebeu que elas não estavam
resolvendo o problema, mas tornando as manchas ainda mais aparentes. “Ao invés
de o amarelo sumir, ficava cada vez mais aparente, mas o pediatra falava que
era normal”, explica.
Foi após uma consulta de rotina
que o caso de Júlia começou a ser investigado. Após uma bateria de exames,
Nathália conta que a filha precisou ficar internada, mas ainda não tinham um
diagnóstico exato. “Aí, começou toda a nossa saga. Eu fiquei internada com ela,
e eles não conseguiam me dar um diagnóstico. Vieram outros médicos, olhavam,
examinavam, apalpavam, e nada. A gente estava no escuro, só diziam que as
imagens de ultrassom eram muito inconclusivas", explica.
Em busca de respostas concretas,
Nathália e Gonzalo Alday Mercado, pai de Júlia, decidiram ir para São Paulo
consultar uma especialista em problemas relacionados ao fígado. No atendimento,
foi constatada a doença. “A médica disse que o caso era claramente atresia de
vias biliares. Por conta da idade dela, não teria outra saída a não ser o
transplante”, conta a mãe.
Busca por um doador
Para realizar o transplante,
Júlia precisava encontrar um doador com tipo sanguíneo A+, igual ao dela, ou
O+. Desde quando iniciaram as buscas, Gonzalo foi considerado o principal
doador, já que tinha o mesmo tipo sanguíneo da filha. No entanto, durante as
avaliações médicas, uma alteração nos exames fez com que o pai da menina fosse
desconsiderado para o procedimento.
Segundo Nathália, outra pessoa da
família começou a realizar exames para ser doadora, mas acabou sendo descartada
durante os testes. Enquanto buscavam por um candidato, Júlia começou a
apresentar piora no quadro, o que tornava ainda mais urgente a necessidade do
transplante. “Quanto mais o tempo passava, mais aumentavam os riscos dela. A
barriga foi crescendo, existia o risco de hemorragia, parada respiratória, a
gente ficou em pânico mesmo”, lembra.
Diante da falta de opções,
Nathália lembrou da irmã, que anteriormente havia se oferecido para ser
doadora. Segundo Vitória Franchini, ela não pensou duas vezes e aceitou
realizar os exames para ser uma possível doadora. “Nunca foi um motivo de
dúvida para mim. Desde que eu soube da história da Júlia, eu falava para a
minha mãe que era eu quem iria doar”, conta Franchini.
Vitória teve os exames aprovados
para ser a doadora, no entanto, dias antes do transplante, Júlia começou ter
complicações e precisou ficar dois dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI),
até o quadro de saúde estabilizar. Após uma decisão médica, no dia 20 maio, o
procedimento foi realizado. Segundo Nathália, a cirurgia foi um sucesso, e a
filha recebeu muito bem os 30% do fígado da tia.
Segundo Gonzalo, a doadora
apareceu no momento exato em que a filha precisava. “Nos 45 do segundo tempo,
quando a Júlia estava em estado grave, conseguimos a compatibilidade e
aprovação de todos os exames da Vitória, que foi a doadora, madrinha e
salvadora da nossa pequena Júlia”, comenta.
Superação
Quando Júlia já se recuperava do
transplante, e a família ainda comemorava o resultado da cirurgia, a menina
precisou superar outro desafio, a Covid-19. De acordo com Nathália, por causa
da doença, a filha precisou ficar internada durante uma semana, mas logo ficou
bem.
Para Gonzalo, passar por tudo
isso no meio de uma pandemia trouxe ensinamentos. “A gente tirou um aprendizado
gigantesco. Foi um dos maiores da minha vida. É emocionante até hoje, às vezes
a ficha ainda cai, porque, na hora, você não tem tempo de sofrer, nem de
chorar, o problema tem que ser resolvido”, finaliza.
G1/SP
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