Lígia Cristiane Arfeli
É época de muito sofrimento para
equipe de saúde da região Metropolitana de Cuiabá, que não é menor do que aquele vivido pelos
profissionais que atuam no interior do Estado onde os recursos são escassos e o
número de casos da Covid-19 vem aumentando consideravelmente.
A enfermagem sempre trabalhou
acima do limite por conta do subdimensionamento e do não cumprimento das normas
técnicas por parte dos gestores públicos
e privados. Hoje, com a pandemia do coronavírus, isso toma outra dimensão: o
adoecimento precoce e a morte iminente são cada vez mais reais; estamos
perdendo a vida pro trabalho!
Vivemos um momento cruel onde
além da própria demanda da pandemia, as ações da fiscalização do Conselho
Regional de Enfermagem evidenciam:
Descumprimento da resolução Cofen
02/2020, que preconiza o número correto de profissionais e a quantidade de
horas por turno de trabalho. Enfermeiros e técnicos estão trabalhando 80 horas
semanais, ou mais, para garantir o próprio sustento, quando a carga não deveria
ultrapassar 40 horas.
Condições precárias de trabalho
diante da hiperlotação das unidades de saúde, pronto atendimento, enfermarias e
UTI públicas e privadas;
Desdobramento sobre-humano para
proporcionar atendimento aos doentes de Covid-19, muitas vezes em macas,
cadeiras e bancos; situação que perdura há mais de quinze dias. A realidade é
uma só: locais para acolher 18 pacientes tem hoje cerca de 40;
Vivência constante com a alta
gravidade da doença, resposta ruim ao tratamento, alto índice de morte. Todo
esforço, dedicação e assistência prestada pelos profissionais de enfermagem
parecem insuficientes, o que nos causa frustrações significativas e abalo
emocional;
A sociedade cobra dos
profissionais de enfermagem pela falta de medicamentos e equipamentos e isso
precisa ser revisto.
O Coren-MT considera que estes
pontos são determinantes para realidade apocalíptica que a enfermagem está
vivendo. Perdemos 44 colegas em um ano de pandemia. Somos a categoria que mais
se contamina durante a atividade laboral, embora façamos uso dos Equipamentos
Individuais de Segurança. O problema é que nem sempre são ofertados em
quantidade suficiente e com a qualidade preconizada pelo Conselho Federal de
Enfermagem (Cofen).
O Coren-MT enfatiza que as ações
de fiscalização foram intensificadas. Gestores tem sido constantemente
notificados para que cumpram as normativas. Porém, não temos o poder sobre as
organizações públicas e privadas e recorremos à intervenção do Ministério
Público através das Ações Civis Públicas.
Estamos cobrando das autoridades
sanitárias o cumprimento de todas as orientações e normas técnicas da profissão.
Dos governos, medidas de isolamento social mais rígidas e capazes de impedir o
avanço da doença.
Depois de um ano de muita luta
pela vida, a experiência acumulada mostra que só o distanciamento social e a
vacina serão capazes de pôr um ponto final nesta pandemia.
Nós, profissionais de enfermagem,
prestamos assistência à saúde com conhecimento científico, técnico e legal
atuando na prevenção e no restabelecimento das pessoas. Estamos presentes em
todas as etapas da vida. Do nascer ao morrer, todos necessitam da assistência
de enfermagem.
A enfermagem apela à sociedade
mais atenção e o fiel cumprimento das regras de biossegurança preconizadas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS).
Lavar as mãos, usar álcool em gel, máscaras e manter o distanciamento
social significam preservar a vida. Mas, sobretudo, diminuir os riscos de morte
dos profissionais e trabalhadores da saúde.
É hora da sociedade reconhecer
nosso trabalho, dos gestores garantirem condições adequadas e o dimensionamento
mínimo de profissionais nas unidades de saúde de acordo com as normas. É hora
dos Poderes, em especial o Federal, concretizar a valorização desta categoria
através das leis que garantem a carga horária adequada e piso salarial digno.
* Lígia Cristiane Arfeli é
enfermeira e conselheira-secretária do Conselho Regional de Enfermagem
(Coren-MT).
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