O Hospital Nossa Senhora
Aparecida, de Camaquã, no Centro-Sul do RS, confirmou, nesta quarta-feira (24),
a morte de três pacientes com coronavírus que foram nebulizados com uma solução
de hidroxicloroquina. O procedimento foi administrado pela médica Eliane
Scherer, denunciada pela instituição ao Ministério Público e ao Conselho
Regional de Medicina.
Segundo o diretor técnico do
hospital, Tiago Bonilha, três dos quatro internados que fizeram o tratamento
apresentaram taquicardia ou arritmias após a nebulização.
"Não tenho como atribuir melhora, ou
piora diretamente ao procedimento, mas de fato, o desfecho final de três
pacientes submetidos a terapia foi óbito. Todos eles têm documentado em
prontuário taquicardia ou arritmias algumas horas após receberem a nebulização.
Dois deles já estavam em grave estado geral, com insuficiência respiratória em
ventilação mecânica, e um deles estava estável recebendo oxigênio por máscara
com boa evolução", descreve Bonilha.
O G1 tenta contato com a médica,
sem sucesso. Eliane Scherer foi afastada pelo hospital, após suposto assédio
moral cometido contra enfermeiros que teriam se recusado a realizar a
nebulização.
Estudos feitos em várias partes
do mundo desde o ano passado não comprovaram a eficácia da hidroxicloroquina no
tratamento contra a Covid-19. Neste mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
recomendou que o medicamento não seja usado como prevenção da doença.
Entenda o caso
Durante o final de semana, ao
menos duas pessoas buscaram, no Judiciário, a aplicação da nebulização. Um dos
pedidos foi concedido, desde que a médica assumisse o tratamento integral da
paciente e que os familiares assinassem um termo eximindo o hospital de
responsabilidades.
A direção do HNSA explicou, por
meio de nota, que, após a concessão da liminar, "o hospital firmou com
outras famílias que tinham o mesmo interesse em aplicar o tratamento em seus
familiares termo de acordo no qual a médica e os familiares se
responsabilizavam pelas consequências do tratamento, e tinham ciência de que
não havia nenhuma comprovação cientifica quanto ao mesmo". Assim, além de
dois pacientes que já haviam recebido o tratamento, duas outras famílias
pediram o mesmo. (Leia a íntegra mais abaixo)
"Dos quatro pacientes internados que
receberam o tratamento por inalação de HCQ, três deles vieram a óbito. Por se
tratar de um tratamento sem comprovação cientifica, o Hospital não pode afirmar
que houve relação direta entre os óbitos e a inalação com HCQ, por sua vez, não
verifica que a nebulização contribuiu para melhorar o desfecho dos pacientes.
Os indícios sugerem que está contribuindo para a piora, porque todos os casos
(de óbito) apresentaram reações adversas após o procedimento", diz a nota.
O diretor Tiago Bonilha diz que
irá aguardar manifestação do Conselho Regional de Medicina. No entanto, como
afirma não ter experiência com este tipo de terapia e não encontrou referências
seguras para aplicá-la, optou por não fazer.
"Infelizmente, nesse cenário
de desespero, polarização e politicagem, diante de muita pressão da sociedade,
permitimos que, via judicial e de maneira formalizada, os pacientes que
desejavam receber essa terapia assim o fizessem", pontua.
Na sexta-feira (19), o presidente
Jair Bolsonaro defendeu a atuação da médica Eliane Scherer durante entrevista a
uma rádio do Rio Grande do Sul.
"A doutora me disse e eu já
tinha comprovado isso também. Ela falou, muito humildemente, que não é uma
ideia dela a questão a questão da nebulização. A primeira vez que ouviu falar
foi lá no estado do Amazonas", afirmou na ocasião.
O G1 entrou em contato com o
Palácio do Planalto, solicitando posicionamento sobre a questão.
O chefe do Serviço de Pneumologia
do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, alerta para potenciais riscos
provocados pela nebulização de hidroxicloroquina. Segundo Marcelo Gazzana, não
há resultados conclusivos sobre a eficácia do procedimento.
"Há dano potencialmente,
sim. Quando a gente faz medicação inalatória, tem que ser adequada. Não apenas
pegar um comprimido e botar no inalador", disse.
G1/RS
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