Os pajés lançaram um manifesto
depois da visita às urnas funerárias: Fórum Teles Pires Juliana Pesqueira/FTP
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A mobilização do povo Munduruku
que começou há dois meses pautada pelas mulheres em defesa dos seus lugares
sagrados e dos direitos indígenas, finalizou na sexta, 21, outra etapa da ação,
mas segundo o movimento a luta continua.
Cerca de 200 indígenas ocuparam
por quatro dias o canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de São Manoel, no rio
Teles Pires divisa entre Pará e Mato Grosso. Na noite do dia 19, após uma
reunião de mais de 7 horas com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Ministério
Público Federal (MPF) e representantes das empresas responsáveis pelas UHE São
Manoel e Teles Pires, as mulheres, crianças, caciques, lideranças e pajés
decidiram encerrar a ocupação e seguir a mobilização na cidade de Alta Floresta
(MT), onde as urnas funerárias dos seus ancestrais estão guardadas.
Em Alta Floresta, os indígenas
realizaram um ritual para poder entrar no Museu de História Natural da cidade
onde as urnas foram levadas. Foram horas de cantos e rituais até que os
indígenas começaram a entrar. Segundo os Munduruku, os espíritos estão
irritados e tristes por terem sido tirados de seus locais sagrados como
consequência da inundação da cachoeira de ‘Sete Quedas’ pelo reservatório da
UHE Teles Pires, localizada a aproximadamente 40 km rio acima da barragem de
São Manoel.
Há anos os indígenas reivindicam
que seus objetos sagrados, retirados sem permissão pela Companhia Hidrelétrica
de Teles Pires (CHTP), sejam devolvidos ao povo Munduruku. Doze urnas
funerárias estão sob a posse da CHTP desde 2014. A procuradoria da República em
Mato Grosso, em 2015, recomendou que as urnas deveriam ser mantidas pela CHTP
até que as lideranças indígenas junto da FUNAI e do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) definam um local para elas serem
guardadas.
Desde fevereiro de 2017, as urnas
funerárias do povo Munduruku estão no Museu de História Natural de Alta
Floresta, local para onde os indígenas que estavam no canteiro de obras da UHE
São Manoel decidiram ir.
Pajés
Os pajés lançaram um manifesto
depois da visita às urnas funerárias. Eles explicam que a intenção foi trazer a
tona as destruições causadas pelas Usinas Hidrelétricas. Sobretudo os impactos
culturais causados por esses empreendimentos, que vem continuando o etnocídio
iniciado desde a invasão dos portugueses ao Brasil.
No segundo encontro das mulheres,
na aldeia Santa Cruz, em maio de 2017, as mulheres Munduruku decidiram fazer a
visita às urnas, aguardamos por tanto tempo sem mostrar para ninguém, mas
agora, a violação veio à público, todos sabem o que a usina Teles Pires e
São Manoel fizeram, destruindo nossos locais sagrados.
No manifesto os pajés reforçam a
necessidade da realização de um estudo independente e feito com o
acompanhamento das comunidades sobre os impactos culturais causados pelas UHEs
acompanhado de um pedido de desculpa dos empreendimentos que atuam no rio Teles
Pires.
"Vimos as urnas e vamos
lutar para que elas sejam mantidas seguras, elas não são para ficar no vidro
como atração, vão voltar para os seus locais. A usina Teles Pires destruiu
nosso local sagrado Karubixexe e tem que pagar. A usina São Manoel destruiu
Dekoka’a. Exigimos que seja feito um estudo antropológico sobre a destruição
de Karubixexe e Dekoka’a. O estudo tem que ser financiado pelas usinas, nós,
povo Munduruku vamos escolher e indicar o antropólogo responsável pelo
estudo. Este estudo é diferente do EIA/ RIMA e do Estudo da Componente
Indígena. Aguardaremos também o pedido de desculpas por terem destruídos
nosso local sagrado, deverá ser feito na audiência da aldeia Missão Cururu,
como apresentado na carta de reivindicação entregue na reunião do dia 19 de
julho de 2017, no canteiro de obras da São Manoel".
Ao final do documento, os
indígenas lembram que se os acordos firmados na reunião do dia 19 de julho com
a FUNAI, MPF e representantes das empresas responsáveis pela UHE Teles Pires e
São Manoel não forem cumpridos os Munduruku voltarão.
"Nós Munduruku estamos
voltando para nossas aldeias, com a proteção dos espíritos dos nossos
ancestrais, fomos ouvidos pela FUNAI e as empresas assumiram o compromisso com
a nossa pauta. Vamos continuar nosso movimento. A FUNAI e a empresa podem
esperar que se não cumprirem o compromisso firmado, voltaremos."
Há dois meses as mulheres
Munduruku iniciaram uma mobilização na aldeia Santa Cruz que reuniu lideranças,
caciques, pajés e crianças para reivindicar, entre outras coisas, o respeito
aos locais sagrados do povo Munduruku e aos direitos indígenas que vem sendo
violados pelas construções de Usinas Hidrelétricas na bacia do Tapajós.
Compromissos Assumidos
Como resultado da reunião do
último dia 19, os representantes da FUNAI, MPF e empresas firmaram uma série de
compromissos, baseados na carta apresentada pelo povos Munduruku no inicio da
ocupação. Os pontos acordados incluíram, entre outros:
Prosseguimento e conclusão de
procedimentos de demarcação das terras indígenas Sawre Muybu, Pontal dos
Isolados, Sawre Jaybu e Sawre Apompu;
Estudos independentes sobre os
impactos socioambientais e culturais das barragens, com participação ativa das
comunidades indígenas e especialistas indicados por elas;
Que o posicionamento da
presidência da FUNAI sobre a Licença de Operação (LO) pleiteada pelo consórcio
da UHE São Manoel seja baseado na lei e no parecer de sua equipe técnica, não
em pressões políticas do governo, considerando o monitoramento independente de impactos
sobre os rios, peixes e a vida dos povos indígenas, documentados em dossiê do
Fórum Teles Pires;
Eevisão da forma com que é
conduzida a execução do Projeto Básico Ambiental Indígena (PBAI) das usinas UHE
Teles Pires e São Manoel, garantindo transparência e participação dos povos
indigenas;
Concepção de projetos para
proteção da memória e cultura Munduruku, além de visita às urnas funerárias e
apoio para definição do local sagrado onde elas serão guardadas e posterior
restituição ao povo Munduruku; e
realização de consulta livre,
prévia e informada, de acordo com o protocolo Munduruku, para construção de
qualquer obra do governo que impacta direta ou indiretamente os povos
indígenas.
Confira na íntegra o texto das
reivindicações aqui.
Apoios dados ao Movimento
Munduruku
Ao longo da última semana, em
resposta à ocupação realizada pelos Munduruku na usina São Manoel, diversas
organizações, movimentos e povos indígenas manifestaram seu apoio.
RecordTV
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