Ela ficou três dias no hospital e foi levada para abrigo pelo Conselho Tutelar.
Pais vivem em barraco às margens do Rio Meia Ponte e têm outros 4 filhos.
Segundo a conselheira tutelar Daniela Dagilca Fernandes, a família é acompanhada desde 2010 e essa não foi a primeira vez que a menina foi diagnosticada com bernes - larvas da mosca-varejeira, que fazem cavidades e se alojam na pele. “O problema deles é muito grave, pois vivem em extrema miséria, em um barraco às margens do Rio Meia Ponte. Por isso, tivemos que intervir e retirar a menina de casa. Ela corria sérios riscos e precisava de cuidados emergenciais”, explicou ao G1.
Além das diversas feridas causadas pelos bernes, a criança também apresentava quadro de anemia e desnutrição. “Ela está muito magrinha e debilitada, até por causa dos remédios fortes que está tomando para curar os ferimentos. Ela lamentou um pouco ter que cortar os cabelos, que batiam no meio das costas, mas é muito consciente e sabe que isso foi necessário para o bem dela”, afirma a conselheira.
Após receber os cuidados no hospital, o Conselho decidiu levar a menina para o Cevam, onde ela toma os medicamentos de três em três horas e faz os curativos necessários. “Aqui ela está sendo muito bem cuidada e em breve vai se recuperar. A nossa luta agora é para ajudar o restante da família, já que não queremos simplesmente tirar a guarda da criança, mas sim restabelecer um ambiente seguro para que ela possa voltar”, disse Daniela.
Os pais têm outros quatro filhos, de 1, 4, 6 e 15 anos. A menina mais velha saiu de casa para viver com o namorado. “A criança que está no Cevam era a responsável por cuidar dos irmãos mais novos enquanto a mãe e o pai trabalhavam. O problema é que eles vivem em condições precárias, sem água potável e no meio do esgoto a céu aberto. Além disso, tomam banho no rio. Nessas condições, é quase impossível que essas crianças fiquem saudáveis”, ressaltou.
decide sobre destino (Foto: Fernanda Borges/G1)
A mãe da menina, uma diarista de 35 anos, disse ao G1 que procurou ajuda quando percebeu uma ferida na cabeça da menina. “No posto de saúde do bairro Criméia Oeste eu tive que praticamente brigar com uma médica para que ela examinasse minha filha, pois diziam que ela não tinha nada. Até que viram o berne e mandaram que ela fosse para o Hospital Materno Infantil. Fiquei assustada ao saber da quantidade de bichos que tiraram”, afirmou.
A diarista reconhece que as condições em que os filhos vivem são de alto risco para a saúde, mas diz que se cadastrou em programas de habitação e está no aguardo de uma casa para deixar o barraco em que vivem. “Já nos prometeram muito, mas já são 10 anos e até agora nada. Já faz tempo que eu quero sair daqui, mas não tinha condições. Agora, depois do que aconteceu com a minha filha, eu e meu marido vamos tomar uma atitude e mudar para um barracão”, afirmou.
A mulher está desempregada, mas diz que na semana que vem deve começar em uma nova ocupação. O marido faz bicos e eles contam com doações para sobreviver. “Vamos pagar R$ 300 de aluguel e algumas pessoas se comprometeram a nos ajudar”, ressaltou a mãe.
Futuro
Daniela explica que o caso da menina foi encaminhado ao Juizado da Criança e do Adolescente, que vai definir o futuro da criança. “Não queremos colocar essa menina em um abrigo e deixar ela lá até os 18 anos. Ela tem família e os vínculos não podem ser perdidos. O que falta para eles é condições para viver em um ambiente saudável e não amor. A mãe é extremamente amorosa com os filhos, mas é uma pessoa muito simples e facilmente manipulável. O marido não ajuda, pois é alcoólatra e isso piora a estrutura familiar”, conta.
que família mora (Foto: Fernanda Borges/G1)
Até que a situação seja definida, a menina permanecerá no Cevam. “Hoje [terça-feira] vou lá visitar ela. Estou com muitas saudades, pois ela é tudo para mim. É tudo muito difícil, mas vamos fazer o que for necessário para não perder a guarda dos meus filhos. Eu amo eles demais”, concluiu Edna.
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