Levantamento feito por
economistas mostra que famílias com renda acima de 20 salários mínimos ganham
38% da renda nacional.
Desigualdade no Brasil é da oficial
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As pesquisas reforçam, ano após
ano, que o Brasil é um país desigual. Porém, um levantamento mostra que a
concentração de renda é ainda mais alarmante do que as estatísticas oficias
reportam.
Dados divulgados na quarta-feira
(11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) apontam que, em 2017, as famílias da classe A ganharam
22 vezes a renda das famílias das classes D/E.
No entanto, esse abismo social
tem quase o dobro do tamanho - a diferença entre os extremos da pirâmide é de
cerca de 42 vezes.
Levantamento da Tendências
Consultoria Integrada com base em dados da Receita Federal mostra que, em 2016,
as famílias com renda mensal acima de 20 salários mínimos abocanhavam 38% da
renda nacional.
Já segundo os dados oficiais, da
Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra de
Domicílios , a classe A detinha apenas 14,9% da massa de renda.
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Os economistas Adriano Pitoli e
Camila Saito, responsáveis pelo estudo, fizeram uma espécie de Pnad
"ajustada" para chegar a um número mais preciso sobre distribuição de
renda. Para as famílias com ganhos de até cinco salários mínimos por mês, foram
utilizados os dados tradicionais da Pnad.Já para a população que ganha acima
desse valor, foram consideradas as declarações de Imposto de Renda. Os dados de
2016 estão consolidados. Já o de 2017 é uma projeção com base no histórico, uma
vez que as informações da Receita referentes a 2017 só serão divulgados ao
final deste ano.
— Apesar de já apontar enorme
desigualdade, a Pnad tende a subestimar os dados de renda, pois as pessoas não
informam corretamente o seu rendimento, diz Adriano Pitoli. Ele explica que a
Pnad, por ser declaratória, não mensura de forma precisa algumas fontes de
renda, como ativos financeiros, aluguéis e ganhos eventuais, como dividendos,
indenizações e FGTS.
A pesquisa aponta ainda que a
subestimação fica maior à medida que se avança na pirâmide. Nas famílias com
renda de cinco a dez salários mínimos por mês, a massa de renda ajustada pela
Receita é 25% maior do que a apurada pelo IBGE.
Entre os brasileiros que ganham
entre 20 e 40 salários mínimos, o número ajustado é mais que o dobro do oficial
- 159,6%. Já na faixa de brasileiros com ganhos acima de 160 salários, a
diferença é gritante - quase 120 vezes maior.
—A desigualdade se deteriorou por
conta da crise e o impacto é maior sobre as extremidades - os mais pobres e os
mais ricos, diz Pitoli.
Ele afirma que, se por um lado a
significativa participação de empregadores na classe A (27% dos chefes de
domicílio) possibilita reações mais agudas e rápidas em períodos de recessão ou
de recuperação, o elevado peso de servidores nesse estrato tende a atenuar esse
efeito. Além disso, a despeito das perdas com a crise, as classes mais altas
tiveram um grande ganho financeiro nesse período, uma vez que os juros estavam
em patamar elevado.
Mesmo a comemorada evolução da
massa de renda real em 2017 (2 3%), após dois anos de retração, esconde
desigualdade. Os empregadores foram os que tiveram maior queda de renda em 2016
(-6,8%), mas também, como apontou Pitoli, a mais rápida recuperação: alta de
12,4% no ano passado. Já entre os trabalhadores por conta própria, que
cresceram em meio à alta do desemprego, praticamente não houve melhora (0,1%).
Tamanho do bolo
A pesquisa também mostra que o
País, apesar de mais desigual, é mais rico - com o ajuste, a massa de renda
total cresceu 50,4% em relação à apurada pelo IBGE.
— Apesar de o 'bolo ter
aumentado', a renda não foi acompanhada por crescimento econômico", observa
Marcelo Neri, ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
e pesquisador do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
"Nós já saímos da recessão, mas o desenvolvimento precisa vir da
produtividade partilhada - que cresce mais na base. E isso acontece com
educação e incentivo a pequenos negócios."
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