Dezesseis policiais militares morreram em confronto, no último ano em Mato Grosso. Destes, 13 foram mortos em confronto ou por lesão não natural fora do serviço. Os outros três foram mortos em confronto durante o trabalho.
Os números de 2013 são maiores que de 2012, quando 14 foram mortos, sendo 10 fora do serviço e quatro durante o trabalho.
Os dados constam no 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgado na última terça-feira (11).
Quando levado em conta as mortes por cada 100 mil habitantes, Mato Grosso tem uma média maior, proporcionalmente, do que o Brasil: em 2013, 1,9 morreram no Estado, contra 0,8 em todo o país fora do serviço; no mesmo ano, 0,4 morreram trabalhando, contra 0,2 do Brasil.
Vitimização
Para o professor de estudos organizacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Rafael Alcadipani, os dados são um alerta da situação em que vivem os policiais no Brasil.
“Em 2013, são 369 policiais mortos fora de serviço e 121 policiais mortos em serviço. Ou seja, policiais brasileiros morrem cerca de 3 vezes mais fora de serviço do que em serviço, número superior ao apurado para os EUA, país no qual 96 policiais foram mortos em serviço, em 2013”, relata Alcadipani no Anuário.
Ainda, conforme o professor, no Reino Unido, por exemplo, desde 1900, são raros os anos em que mais de oito policiais perderam suas vidas devido à profissão.
“Isso significa que o número de policiais mortos em nosso país é extremamente elevado, ainda mais se compararmos com países desenvolvidos e não violentos”.
Outro ponto levantado pelo Anuário é que no país, muitos policiais acabam fazendo “bicos” para aumentar a renda.
“O policial que perde a vida fora de serviço o faz em decorrência da sua profissão, afinal, o policial é um agente do Estado 24 horas por dia. Vários são os fatores possíveis para explicar estas mortes. É fundamental melhorar as condições de remuneração dos policiais para que eles tenham menos necessidade de expor as suas vidas praticando ‘bicos’”, analisou o professor.
Outro fator preocupante é que policiais acabam por temer, caso assaltados ou rendidos, sua profissões.
“Inúmeras vezes policiais reagem a assaltos quando fora do trabalho, pois sabem que se sua profissão for descoberta pelos assaltantes, os policiais muito possivelmente serão executados”.
“Policiais, ainda, são executados por facções criminosas em algumas unidades da federação e também são mortos por vingança de atos praticados em serviço que desagradaram criminosos. Matar um policial é sinal de bravura e chega a funcionar como rito de passagem em algumas organizações criminosas”.
Suicídio e depressão
Até então inédito, o Anuário de Segurança Pública lançado neste ano abordou os suicídios de policiais.
Em 2009, 32 se mataram; contra 27 em 2010; 43 em 2011; 45 em 2012 e 27 em 2013.
Conforme o levantamento, estudos internacionais já colocaram em pauta a questão e indicam que o profissional de polícia está mais suscetível a cometer suicídio do que outros profissionais.
A justificativa é que os policiais têm de lidar diretamente com sofrimento humano e grau elevado de tensão.
“Poucos saem imune desta função. O abuso de substâncias tóxicas, problemas familiares e depressão são companheiros constantes dos policiais. A maioria expressiva das forças policiais não possui um acompanhamento psicológico minimamente adequado para seus profissionais. Esta situação precisa ser revertida”, alertou Rafael Alcadipani.
Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o país precisa parar de “esconder” a realidade da vitimização policial – e também da sociedade civil – e tentar resolver o problema.
“Já passou da hora de nossos governantes assumirem a letalidade e a vitimização policial enquanto um problema de política pública. A morte precisa ser compreendida como tabu, e não como resultado aceitável da política de segurança”, disse.
Fonte: Midia News
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