2014/03/09

Estudante de direito morre depois de fazer prova física do concurso da Polícia Militar


Foto: Reprodução/Facebook
Luís Pelegrini morreu ao tentar ingressa na Polícia Militar de Mato Grosso
Luís Pelegrini morreu ao tentar ingressa na Polícia Militar de Mato Grosso

Redação - Priscilla Silva
A contagem do tempo para o advogado Celso Pelegrini, de 60 anos, será dolorosa daqui pra frente. Seu único filho, Luis Felipe Meira Pelegrini, de 21 anos, morreu ao tentar ingressar na Polícia Militar de Mato Grosso. O jovem estava no 7º semestre do curso de direito e passou mal durante a prova de aptidão física, no dia 19 de fevereiro, e, ez dias depois, em 1º de março ele faleceu, no pronto-socorro de Várzea Grande.

Além da tristeza, a morte de Felipe Pelegrini consternou amigos e namorada, mas a dor da perda para seu pai tornou-se insuportável. “Eu perdi quem eu mais amava no mundo”, lamenta Celso Pelegrini na missa do 7º dia de seu único filho, que aconteceu na sexta-feira (07).

O sentimento de perda do pai trouxe junto o de revolta com o sistema de saúde e a exigência de testes físicos. Para Celso, estas provas físicas “vão além dos limites do corpo” somente para aprovação em concurso público.

Segundo o advogado, é necessário que o candidato faça uma série de exames mais aprofundados antes de realizar a prova física. “O que eles pedem é muito superficial e não tem como saber o histórico de saúde do candidato”. A causa da morte do jovem ainda é confusa para o pai. “Na verdade, até agora não entendi o que aconteceu com meu filho. No dia, os médicos disseram que era vesicular”, conta.

“Eu não sei até que ponto eu posso mudar isso e não deixar que a morte do meu filho seja em vão, mas o que mais me incomoda é o setor da saúde, meu filho morreu nos meus braços sem nenhum diagnóstico”, lastima Celso.

Segundo o relato do advogado, por duas vezes seu filho foi internado no pronto-socorro de Várzea Grande e só foi atendido quando estava prestes a morrer. “Se você se interna lá é sinal de que vai morrer”, afirma.

Corredores lotados de pessoas agonizando de dor, médicos atendendo além do limite de sua capacidade e enfermeiros já endurecidos devido ao caos diário a que são submetidos. Esta foi à cena descrita pelo pai que perdeu seu filho e não tinha condições financeiras para pagar uma unidade particular. “Não existe saúde em nosso país”, assevera Celso.

No dia de sua morte, Felipe Pelegrini acordou cedo, tomou café da manhã e foi para a prova marcada para às 7h da manhã. O primeiro teste era a corrida, em que o candidato precisa cumprir um percurso de 2.300 metros em 12 minutos.

O jovem entrou na pista às 9h30 e quando estava próximo à linha de chegada, percebeu que não daria tempo, sendo assim, decidiu se jogar ao chão no intuito de alcançar a linha. Ele teve hiperglicemia e uma parada respiratória. A ambulância que estava no local o encaminhou ao pronto-socorro de Várzea Grande, onde Felipe só foi atendido quando estava em suas últimas horas de vida e teve “um problema cardíaco”. Ele morreu às 14h40.

Apesar de ter consciência que o mau atendimento do serviço público resultou na morte de seu filho, Celso não pretende processar o estado. No entanto, ele quer que a morte de seu filho não seja em vão e que “essa realidade mude para que outros não morram”.

“O meu pedido é que as autoridades que possam mudar isso façam alguma coisa e mudem a nossa saúde. Olhe quantos já foram gasto com essa Copa, será que ela vale mais do que milhões de mortos no nosso país?”, questiona o pai de Felipe Pelegrini.

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