2013/12/14

Mais de 100 pessoas se mataram em MT neste ano; psicólogo ensina detectar sinais de depressão nas pessoas próximas


Mais de 100 pessoas se mataram em MT neste ano; psicólogo ensina detectar sinais de depressão nas pessoas próximas
“Estátuas e cofres e paredes pintadas, ninguém sabe o que aconteceu: ela se jogou da janela do quinto andar, nada é fácil de entender...”. (Pais e Filhos – Legião Urbana)

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) trazem à tona um número assustador: cerca de um milhão de pessoas se suicida a cada ano e uma grande porcentagem delas padece de depressão profunda. Mais de 50% das pessoas que se suicidaram sofriam de depressão. Assim como na letra da música, quem está perto de um depressivo nem sempre percebe os sinais e, quando ele chega a se matar, a família fica sem entender o motivo.

De janeiro a outubro deste ano, 107 pessoas suicidaram-se em Mato Grosso, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública. O índice diminuiu se comparados com mesmo período do ano passado, no qual o número até outubro foi de 141. Em 2012, no entanto, o número foi mais alarmante: 393 casos entre tentativas e atos consumados.

Somente na última semana em Cuiabá, três pessoas de classe média alta atentaram contra a própria vida. Dois empresários na casa dos 40 anos e uma jovem de 25 anos. Ainda de acordo com dados da OMS, a depressão afeta cerca de 340 milhões de pessoas e causa 850 mil suicídios por ano em todo o mundo. Somente no Brasil, são aproximadamente de 13 milhões de depressivos. A doença é apontada como a quinta maior questão de saúde pública pela OMS, sendo que até 2020 deverá estar em segundo lugar.

Causas e sintomas da depressão:

Segundo o psicólogo Luiz Verdun, a depressão é uma doença e deve ser tratada como tal, por um médico psiquiatra. As causas são as mais variadas, podem ser desde alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina – substâncias responsáveis pela sensação de prazer), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células, até fatores genéticos ou sociais.

O psicólogo alerta que os principais sintomas da depressão são baixa autoestima, deixar de se interessar pelos amigos, família, lazer, hoobies, coisas que antes lhe dava prazer, trabalho, pela sua saúde, choro compulsivo. Sentir-se esgotado o tempo todo, não querer levantar da cama. Sentimento de desamparo e desesperança, alterações no apetite ou no peso, auto aversão – sentimento de inutilidade ou culpa, irritabilidade ou inquietação, bem como dores inexplicáveis também são sintomas.

“Vivemos em um mundo de extrema cobrança: você tem que passar num concurso, você tem que ser bem sucedido, tem ser magro. As mídias e as redes sociais pregam o tempo todo vidas perfeitas e, quem não as tem, acaba sentindo-se automaticamente fracassado. Este é um dos grandes fatores sociais da depressão. O outro grande fator está relacionado às perdas tanto de entes queridos, quanto de bens. Pessoas que eram muito ricas e que perdem tudo, mas não sabem lidar com isso”, explica.

Luiz explica que o que geralmente leva os depressivos a tentarem suicídio é a vontade de findar com uma vida que já não lhes serve mais. “É a falta de amor que leva as pessoas a atentarem contra a própria vida. A maioria dos pacientes que atendi que tentaram se matar mas não conseguiram, nunca pararam para pensar em quem ia ficar. E isso vem lá de trás, uma base familiar sólida e também uma crença religiosa seja lá qual for, pode evitar muitas mortes”, afirma.

Os sinais de alerta para o suicídio incluem:

■Falar em morrer ou prejudicar-se a si mesmo
■Expressar sentimentos fortes de desespero ou de se sentir encurralado
■Uma preocupação incomum com a morte ou em morrer
■Comportar-se de forma imprudente, como se tivesse um desejo de morte (por exemplo, excesso de velocidade , passar no sinal vermelho)
■Querer telefonar ou visitar algumas pessoas para dizer adeus
■Verbalizar frases como “As pessoas ficariam melhor sem mim”ou “qualquer dia acabo com isto tudo.”
■Mudança repentinas mudando de um comportamento extremamente deprimido para agir de forma calma e alegre

Onde procurar ajuda:

Lar de Amparo Eurípedes Barsanulfo

Em Cuiabá funciona desde 1995 o Lar de Amparo Eurípedes Barsanulfo, cujo objetivo é tratar pessoas com depressão, tentativas de suicídio, que passaram pela perda de entes queridos, com síndrome do pânico, separação de casais, tentativas de aborto, distúrbios do sono ou da alimentação, bem como quaisquer outras doenças denominadas ‘da alma’. No local o paciente fica internado e recebe todo auxílio médico, psicológico e espiritual, até que possa voltar para casa. Tudo isso é oferecido de forma gratuita para a população.

De acordo com a coordenadora voluntária do Lar de Eurípedes, Fransoize de Jesus Magalhães, de 1995 até 2013, cerca de 5.300 pessoas já receberam tratamento e ficaram internadas na instituição que é ligada às Obras Sociais Wantuil de Freitas, localizada no Bairro 1º de Março, em Cuiabá. Segundo ela, os índices de cura são altos.

“A depressão não pode ser tratada como frescura, é uma doença. Temos visto muita gente morrendo e um índice crescente de suicídios justamente por falta de um tratamento adequado. No Lar de Eurípedes além do tratamento médico, essas têm educação física, laborterapia, fluidoterapia, musicoterapia, apoio fraterno, evangelhoterapia e aulas e estudo em grupo”, disse.

Ao todo são 30 leitos disponíveis sendo 15 para homens e 15 para mulheres. Cerca de 70 trabalhadores voluntários se revezam diariamente para dar todo suporte às pessoas internadas. O local sobrevive exclusivamente de doações e não recebe nenhum tipo de ajuda do governo.

“A nossa expectativa é de aumentar o número de leitos para 100. Para isso estamos construindo uma nova sede, aqui mesmo no terreno do Centro Espírita Wantuil de Freitas. Mas fazemos tudo com apenas com as doações, porém o que recebemos muitas vezes oque chega pra nós só dá para cobrir as despesas do Lar e não sobra para tocar a obra”, diz a coordenadora.

Fransoize adverte que para os que estão pensando em se matar na esperança que a vida acaba com a morte, é bom que leiam o livro de ‘Memórias de Suicida’, de Ivone Pereira. “É um alerta pois o problema não acaba com a morte, ao contrário, começa uma grande dificuldade diante da infringência da lei de Deus”, finalizou.

Maiores informações sobre internações ou como ajudar o Lar de Eurípedes podem ser obtidas no 3649 5851 ou pelo 99831028.

Centro de Valorização da Vida (CVV)

O atendimento é 24h pelo telefone 141 (Cuiabá e Várzea Grande) e (65) 3321-4111 (interior de Mato Grosso). Todos os atendentes são voluntários que atuam em diversas áreas, mas que têm em comum a vontade de ajudar e ouvir.
Ajuda essa que, levando em consideração a taxa de suicídios na capital e interior de Mato Grosso, é muito bem-vinda. Os voluntários passam por 13 semanas de treinamento e, depois disso, fazem reuniões mensais onde o aprendizado é constante para ‘saber ouvir’.

São, em média, 14 ligações por dia, seja de manhã, à tarde, à noite ou de madrugada. O perfil de quem liga no CVV não é padrão. São pessoas de todas as idades, classes sociais e filosofias de vida. O que todas elas têm em comum é a necessidade de falar. Contar suas angústias, tentar aliviar a solidão, o sentimento de vazio e a depressão. “Mas não raro pessoas ligam para compartilhar alguma alegria, algo bom que aconteceu”.

Mas os atendentes não só ouvem, pois dessa forma quem liga iria sentir-se sozinho do mesmo jeito. A conversa que se desenvolve, no entanto, não é como as interações cotidianas. No dia a dia, quando dialogamos com alguém, argumentamos, contra-argumentamos, chegamos a conclusões ou a mais dúvidas. “Mas no CVV, o atendente demonstra compreensão. Ele não está lá para argumentar, mas para te entender, demonstrar que a pessoa não está sozinha”.

De fato, os atuais 48 voluntários do CVV Cuiabá passam por extensivos cursos para aprender a não julgar as pessoas, mesmo que indiretamente. Mesmo que não se concorde com o que a pessoa que ligou diz ou quer fazer, deve-se demonstrar compreensão, aceitar sem julgamento e, principalmente, ouvir.

O CVV também oferece atendimento pessoal. É só ir até a sede, na Rua Comandante Costa, nº 296, Centro, e tocar a campainha. Um voluntário plantonista fará o atendimento em uma cabine. “A grade é só por questão de segurança. O atendimento é diário, das 8h às 18h”, explica a membro da coordenação da entidade, Isaura Titon.

Serviço

Como o CVV vive de seus voluntários, que não só atendem o público, mas também mantêm a instituição, qualquer doação é bem-vinda.
Para fazer uma doação, é só depositar ou transferir a quantia desejada para conta do Banco do Brasil da Fraternidade de Apoio à Vida.
Agência: 0046-9
Conta corrente: 28437-8

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