Os
gastos com propaganda do governo federal nos dois primeiros anos da
gestão de Dilma Rousseff, incluindo estatais, é 23% maior, na média, do
que nos oito anos de mandato de seu antecessor e padrinho político, Luiz
Inácio Lula da Silva. A presidente também vem gastando mais - cerca de
15% -, na média, na comparação com o segundo mandato de Lula.
Ao
todo, em dez anos de governo petista foram desembolsados, incluindo
todos os órgãos da administração, cerca de R$ 16 bilhões, em valores
corrigidos pela inflação, segundo levantamento inédito do Estado.
A
quantia é quase igual aos R$ 15,8 bilhões que o governo pretende
investir no programa Mais Médicos até 2014. Com o valor também seria
possível fazer quase duas obras de transposição do Rio São Francisco,
atualmente orçada em R$ 8,2 bilhões.
Em
mobilidade urbana, seria possível construir entre 25 km e 30 km de
metrô em São Paulo - um terço da atual malha - ou então colocar de pé,
na capital paulista, cinco monotrilhos iguais ao que ligará o Jabaquara
ao Morumbi, na zona sul, passando pelo aeroporto de Congonhas.
O
dinheiro gasto pelo governo com publicidade poderia também manter
congelada em R$ 3 a tarifa de ônibus na cidade de São Paulo durante 50
anos.
Ainda
para efeito de comparação, o valor é duas vezes superior aos recursos
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que Dilma anunciou para a
capital paulista há dez dias, e que servirá para construir 127 km de
corredores de ônibus, recuperar os mananciais das represas Billings e
Guarapiranga, drenar vários córregos da capital e construir moradias
para 20 mil famílias.
Os
dados sobre os gastos com publicidade foram solicitados, via Lei de
Acesso à Informação, a cada um dos órgãos que a Secretaria de
Comunicação Social (Secom) informou ter assinado algum contrato
publicitário desde 2003. Os dados foram computados com base na resposta
fornecida por eles - o governo federal afirmou que não dispõe dessas
informações de maneira centralizada.
Ao
comentar os resultados do levantamento, o governo ressaltou que as
despesas da administração direta - ministérios e Presidência - têm o
objetivo de "levar à população, em todo o território nacional,
informações de utilidade pública para assegurar seu acesso aos serviços a
que tem direito e prestar contas sobre a utilização dos recursos
orçamentários".
No
caso dos gastos da administração indireta, como as estatais, o governo
argumentou que se trata de empresas que, apesar de públicas, concorrem
no mercado, portanto precisam ter a imagem bem trabalhada.
Atualmente
Dilma enfrenta problemas de popularidade, que já bateu recordes, mas,
depois das manifestações de junho, enfrentou uma forte queda. No fim de
semana, o Datafolha divulgou nova pesquisa que mostra uma pequena
recuperação da aprovação do governo.
Médias
comparadas. Nos dois primeiros anos de mandato da presidente Dilma, o
governo federal gastou R$ 3,56 bilhões, média de R$ 1,78 bilhão por ano.
Nos
oito anos de Lula, o governo desembolsou R$ 11,52 bilhões, média de R$
1,44 bilhão. No primeiro mandato, a média foi de R$ 1,32 bilhão. No
segundo, de R$ 1,55 bilhão - sempre lembrando que se trata de valores
atualizados pela inflação.
O
dado global de gastos com propaganda, de R$ 16 bilhões, pode ser, na
verdade, ainda bem maior. Isso porque o Banco do Brasil se recusou a
informar os seus gastos com publicidade entre 2003 e 2009.
Só
há dados disponíveis de 2010 a 2012. Por essa razão, a fim de evitar
distorções, os dados referentes ao banco só foram incluídos no valor
global, ou seja, nos R$ 16 bilhões, mas descartados na comparação entre
os anos.
Apenas
para se ter uma ideia, entre 2010 e 2012, o Banco do Brasil gastou,
também em valores corrigidos pela inflação, R$ 962,3 milhões com
publicidade, média anual de R$ 320,7 milhões. É, no período, o segundo
órgão que mais gastou, atrás da Caixa Econômica Federal.
Banco
do Brasil à parte, a Caixa Econômica, a Petrobrás e os Correios,
somados, representam 51,12% de tudo o que o governo destinou a ações
publicitárias nos dez anos de gestão petista.
Por
causa do peso dessas três gigantes, a administração indireta - que
engloba autarquias, fundações, sociedades de economia mista, empresas
públicas e agências reguladoras - concentrou 69,4% dos gastos do governo
com publicidade.
Três
companhias energéticas que integram a administração indireta - Alagoas,
Piauí e Rondônia - não responderam ao questionamento do Estado.
Na administração direta, apenas o Ministério do Trabalho e Emprego não enviou seus dados de despesas com publicidade.
A
Secom, que formula a estratégia de comunicação da Presidência, é o
órgão mais gastador da administração direta, tendo sido responsável pelo
desembolso de R$ 1,68 bilhão no período de dez anos. Ela é seguida
pelos ministérios da Saúde, das Cidades e da Educação.
Tanto
no caso da administração direta quanto da indireta, houve aumento dos
gastos publicitários de 2003 para 2012. No primeiro caso, saltou de R$
255 milhões para R$ 626 milhões, aumento de 146%. No segundo, de R$ 775
milhões para R$ 1,15 bilhão, crescimento de 48%.
Também
nos dois casos, o pico de gastos ocorreu em 2009. A Secom e os
ministérios gastaram R$ 752 milhões, e a administração indireta, R$ 1,22
bilhão. Era o terceiro ano do segundo ano de mandato de Lula.
Por
tradição, governos gastam mais no ano que antecede a eleição, porque a
legislação eleitoral impede que, no último ano de mandato, o gasto com
publicidade ultrapasse a media dos três anos anteriores.
Fonte: Estadao.com
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