Operação realizada em junho foi a
primeira após assinatura de um acordo de cooperação técnica entre as
instituições
17/06/2022 - A Coordenadoria
Nacional de Trabalho Portuário e Aquaviário (Conatpa) do Ministério Público do Trabalho
(MPT) e a Marinha do Brasil, por intermédio da Capitania Fluvial de Mato Grosso
(CFMT), realizaram, neste mês, uma operação para averiguar as condições de
saúde e segurança dos trabalhadores que laboram em atividades garimpeiras em
balsas do rio Teles Pires, no município de Paranaíta/MT, e que estão vinculados
à Cooperativa de Pequenos Mineradores de Ouro e Pedras Preciosas de Alta
Floresta e outros Municípios (Cooperalfa). Cerca de 600 trabalhadores,
espalhados em pelo menos 150 balsas de garimpo, são cooperados.
A fiscalização foi motivada pelo recebimento de notícias de fato que resultaram na instauração de inquéritos civis, em curso no MPT em Alta Floresta, relatando a ocorrência de acidentes, muitas vezes fatais, com mergulhadores da região. Em grande parte dos casos, os trabalhadores se acidentam por falta de treinamento adequado, mergulhadores sem habilitação e utilização de equipamentos não certificados pela autoridade marítima.
Foram inspecionadas três
embarcações, sendo constatada a utilização do trabalho de mergulhadores em duas
delas. A força-tarefa encontrou trabalhadores que se ativam na extração
minerária em profundidades que vão de 5 a 40 metros. “O escopo da atividade foi
garantir a possibilidade de trabalho digno a trabalhadores que vêm sofrendo com
os constantes acidentes de trabalho, os quais, por vezes, acarretam o óbito
dessas pessoas”, salientam os procuradores do MPT.
O órgão pontua que a exploração
de garimpo de ouro em Alta Floresta e cidades próximas é atividade que persiste
há décadas e em situação de precariedade em relação à saúde e à segurança dos
trabalhadores. “Não é nosso papel fazer qualquer juízo de valor sobre a
legalidade da extração minerária realizada na região, mas é fato notório que a
exploração do garimpo é um tema de extrema complexidade, que envolve matéria de
direitos humanos, criminal, cível e trabalhista”, explicam os procuradores.
Participaram da operação a
procuradora do Trabalho Flávia Oliveira Veiga Bauler, coordenadora nacional da
Conatpa, o procurador do Trabalho Ulisses Dias de Carvalho, o capitão dos
Portos de Mato Grosso, Alessandro Lopes Fajard Oliveira, o suboficial (CN) e
inspetor Naval Anderson Pauli Pereira, além de outros oficiais da Marinha.
As fotos e o relatório da
operação serão juntados aos inquéritos civis em andamento, a fim de que as
providências necessárias à regularização do meio ambiente de trabalho nas
balsas sejam adotadas.
Falta de segurança
As três balsas inspecionadas
apresentaram problemas relativos à falta de medidas de prevenção e combate a
incêndio. Nenhum programa de gestão de saúde e de segurança do trabalho vinha
sendo desenvolvido nas embarcações fiscalizadas. Os poucos extintores existentes
estavam despressurizados e, muitas vezes, situados em locais com acesso
obstruído. Também foi verificada a existência de botijões de gás armazenados de
forma insegura.
Segundo o relatório elaborado
pelo MPT, as instalações elétricas estavam precárias, submetendo os
trabalhadores ao risco constante de choque. Em uma das balsas, os garimpeiros
estavam lavando a embarcação e deixando partes eletrificadas em contato direto
com a água – também se encontravam sem qualquer tipo de proteção que isolasse seus
pés de possível contato com a eletricidade.
O combustível utilizado nas
máquinas e equipamentos estava armazenado de forma inadequada dentro das
embarcações, nas proximidades dos ambientes de descanso dos trabalhadores.
Em todos os locais, os garimpeiros
afirmaram que a água utilizada para consumo e preparo das refeições vem do poço
artesiano situado no porto de Paranaíta e que a água para banho é retirada
diretamente do rio.
As péssimas condições de higiene
chamaram atenção dos integrantes da força-tarefa. Os danos estruturais eram
manifestos e a privacidade não era garantida durante o uso das instalações
sanitárias, em especial nas embarcações que contavam com cozinheiras.
Às vezes, falta oxigênio
Os procuradores ouviram relatos a
respeito do dia a dia dos trabalhadores nas balsas de garimpo. Eles verificaram
que não há treinamento ou capacitação para os mergulhadores e que os
equipamentos são compartilhados entre os profissionais de cada embarcação. Em
uma delas, onde o mergulho é realizado em menor profundidade (de 5 a 6 metros),
não foi encontrado tubo de oxigênio.
Um dos trabalhadores, que afirmou
laborar há pelo menos 40 anos como mergulhador em garimpos, mencionou a
existência de apenas três vestimentas de mergulho, as quais são utilizadas por
cinco pessoas. O mergulho que estava realizando na área onde sua embarcação
estava atracada poderia atingir oito metros de profundidade, sendo a oxigenação
feita por meio de um compressor de ar instalado no local.
Em outra balsa, os procuradores observaram que os operadores de máquinas também não haviam recebido capacitação. A embarcação onde estavam era a única das três visitadas que não dependia de mergulhadores, dispondo de sistema de perfuração e sucção de material minerável. Um desses operadores sofreu acidente de trabalho há cerca de um ano e perdeu quatro falanges dos dedos da mão direita. Seus dedos foram imprensados entre a roldana e o cabo de uma máquina durante o trabalho de manutenção. A balsa onde aconteceu o acidente estava situada no Rio Tapajós e era ilegal. Após a ocorrência, ele ficou sem nenhum tipo de trabalho por cerca de três meses e sem receber nenhum tipo de benefício previdenciário ou assistencial.
Outro trabalhador, que realiza
mergulhos em garimpos há pelo menos 10 anos, declarou não saber manusear o
cilindro de oxigênio nem fazer a leitura das informações nele contidas. No
local em que se encontrava, a profundidade do mergulho chegava a 40 metros. Ele
relatou utilizar os equipamentos de segurança fornecidos pelo proprietário da
embarcação. A mangueira que transporta o oxigênio que respira estava emendada
com durepox. “Às vezes, falta oxigênio durante o mergulho, mas é raro”, disse.
“Nessa balsa especificamente, a
profundidade é muito maior, superando 40 metros. (...) Igualmente, não há
treinamento ou capacitação para a realização da atividade de mergulho. Os
mergulhadores fazem revezamento entre si, em jornada declarada de uma hora de
duração, uma vez ao dia, mas há indícios de jornadas de três horas registradas
na bancada de madeira da embarcação”, aponta o relatório.
O procurador do Trabalho Ulisses
Dias de Carvalho explica que a atividade do mergulhador, em especial em maiores
profundidades, envolve alto risco em razão das adversidades próprias do
ambiente e da pressão a que os trabalhadores são submetidos. “Medidas de
segurança do trabalho precisam ser adotadas urgentemente, tanto pela
cooperativa quanto pelos proprietários das embarcações, para garantia da saúde
desses trabalhadores."
Cooperação
Para promover ações conjuntas
voltadas à segurança de trabalhadores aquaviários, MPT e Marinha do Brasil
firmaram, em dezembro do ano passado, um acordo de cooperação técnica que prevê
o desenvolvimento de projetos e atividades de interesse comum com foco na
melhoria das condições de vivência e trabalho a bordo de embarcações.
O acordo possibilita a realização
de ações nos campos da instrução, fiscalização, comunicações, inteligência e
outras áreas afins. A parceria também visa a promover, forma ágil e eficiente,
uma atuação coordenada para conscientização e fiscalização do cumprimento de
leis e regulamentos.
Para a coordenadora nacional da
Conatpa, Flávia Bauler, a operação consolidou a parceria institucional. “Vi na
Marinha do Brasil o interesse em apoiar o Ministério Público do Trabalho, até
por concordar com bandeiras que levantamos aqui. E o que a gente fez mostrou
justamente isso, como nossa parceria institucional é uma conjugação de esforços
com um objetivo comum, que é a segurança do trabalho, que impacta na segurança
da navegação e na salvaguarda da vida humana no mar.”
O capitão dos Portos de Mato
Grosso, Alessandro Lopes Fajard Oliveira, também falou sobre a importância da operação.
“Poder contribuir com um órgão tão importante como o Ministério Público e levar
a atividade totalmente alinhada à salvaguarda da vida humana, que é um dos
pilares de sustentação da existência da Capitania, só faz com que nos
orgulhemos muito de fazer um bom trabalho. Acho que com certeza colheremos bons
frutos disso”, concluiu.
Assessoria de Comunicação ∣
MPT-MT











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