Manchas vermelhas são o sintoma mais óbvio do sarampo — Foto: Getty Images via BBC |
O Amapá registrou as duas
primeiras - e únicas - mortes por sarampo em 2021 confirmadas até o momento no
Brasil, segundo o Ministério da Saúde e o governo estadual. As vítimas, de 4 e
7 meses, ainda não tinham idade para vacinação à época em que foram confirmadas
com a doença - a dose inicial é aplicada a partir dos 6 meses.
A primeira morte foi confirmada
em 28 de março em Macapá. A bebê de 7 meses apresentou os sintomas iniciais em
24 de fevereiro, mais de um mês antes. Ela vivia com a família na Zona Oeste da
capital.
O outro óbito era investigado
entre duas gêmeas indígenas, de 4 meses, que morreram em dias diferentes com
sintomas parecidos. Uma em 19 de abril e outra em 1º de maio em Pedra Branca do
Amapari.
A Superintendência de Vigilância
em Saúde do Amapá (SVS) confirmou a morte de uma delas por sarampo na
sexta-feira (14), após resultados de exames enviados para análise na Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz). Uma morreu de sarampo e a outra de dengue.
"Até o dia 14/05, não há
outros casos de mortes notificados em outros estados brasileiros. O Ministério
da Saúde reforça que apoia estados e municípios em ações de bloqueio,
prevenção, rastreamento de casos e investigações necessárias para o
enfrentamento à doença", informou o Ministério em nota ao G1.
A confirmação das mortes acontece
no momento em que o estado vive um surto da doença ao superar, em quatro meses
e meio, todos os casos de sarampo registrados ao longo de 2020.
De acordo com dados da SVS,
apenas nos 5 primeiros meses de 2021 o Amapá já superou o número de registros
da doença catalogados durante todo o ano de 2020.
Até 11 de maio, foram 320 pessoas
confirmadas com sarampo, diante de 297 entre janeiro e dezembro do ano passado.
Outras 18 notificações estão sob investigação epidemiológica.
Vacina usada para o sarampo protege também contra caxumba e rubéola — Foto: Marcelo Camargo/Agência BrasilBoletim da Secretaria de
Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde evidenciam ainda mais a crise da
doença no estado. Com dados até 16 de abril, o Amapá, com 260 confirmações, é
responsável por 80,6% de todos os novos casos de sarampo de todo o país.
O sarampo tinha sido eliminado do
Brasil em 2016. O vírus da doença foi reintroduzido em 2018 a partir da
Venezuela e encontrou uma grande parcela da população desprotegida, não vacinada
contra a doença.
Depois de 22 anos, o Amapá
registrou os primeiros casos em outubro de 2019 e, desde então, enfrenta um
surto da doença. As mortes das meninas eram as primeiras investigadas no
estado.
Em 2020, o Ministério da Saúde
confirmou 10 óbitos por sarampo no país, nenhum no Amapá. Foram 8 no Pará, 1 no
Rio de Janeiro e 1 em São Paulo.
Baixa vacinação e pandemia
elevaram crise
Para a SVS, do governo estadual,
o surgimento de um novo surto da doença está associado à baixa imunização,
mesmo com a campanha realizada ao longo de 2020 que, inclusive, realizou a
vacinação de casa em casa buscando elevar a imunidade da população.
O sarampo é altamente contagioso
e é provocado através da transmissão viral, que ocorre da mesma forma que a
gripe e a Covid-19: de pessoa para pessoa, através da tosse e secreções.
Entre os motivos que levaram a
baixa procura pela vacina, segundo a SVS, estão o medo da pandemia, a
insuficiência de equipes do Programa Saúde da Família e falta de alimentação no
sistema do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI).
“Também por um lado, o isolamento
social que deixou as famílias dentro de casa, por outro lado também a pouca
entrada das equipes do Saúde da Família até pela própria condição. Isso
provavelmente estimulou essa situação que nós vivemos hoje”, pontuou Dorinaldo
Malafaia, chefe da Vigilância em Saúde do Amapá.
Dorinaldo Malafaia, chefe da Superintendência de Vigilância em Saúde do Amapá — Foto: Victor Vidigal/G1 |
Alerta com as crianças
Apesar de o sarampo ser
facilmente prevenido com a vacina, bebês menores de 6 meses não podem ser
imunizados e estão mais vulneráveis durante o surto da doença.
É o caso do filho da Walbiane
Ribeiro, de apenas 4 meses e que está internado há cerca de 9 dias, sendo
diagnosticado com sarampo.
Segundo a mãe, a criança havia
dado entrada no hospital com pneumonia e ficou internada no hospital até 25 de
abril, data em que foi transferida para a pediatria neonatal, onde passou mais
4 dias no local e recebeu alta em 29 de abril.
Alguns dias após o retorno para
casa, o bebê começou a apresentar sintomas de sarampo como tosse, olhos
vermelhos, manchas vermelhas na pele e na boca. Em 6 de abril, retornou para o
Pronto Atendimento Infantil (PAI) e recebeu o diagnostico da doença.
"Ele foi direto para o isolamento porque era sarampo, neste lugar tinha mais duas mães com bebês com sarampo. Ele foi atendido e apresentou melhora no domingo (9), depois foi transferido aqui para a pediatria. Está aqui com duas crianças com sarampo numa sala isolada”, relatou a mãe.
Facilmente prevenível por vacina, o sarampo voltou com tudo ao Brasil a partir de 2018 — Foto: Getty Images via BBC |
Sarampo
O sarampo é uma doença altamente
contagiosa, sendo transmitida por meio da fala, tosse e espirro. A doença pode
deixar sequelas por toda a vida ou mesmo ser letal.
A pessoa contaminada pode
apresentar mal-estar geral, febre, manchas vermelhas que aparecem no rosto e
vão descendo por todo o corpo, além de tosse, coriza e conjuntivite. A
recomendação é que pessoas entre 6 meses de idade e 59 anos se vacinem.
A imunização contra o sarampo é
ofertada em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS) e protege ainda contra
outras duas doenças: caxumba e rubéola.
É recomendável que, até os 29
anos, a pessoa tenha tomado 2 doses da tríplice viral; caso não tenha tomado,
ela é imunizada em 2 etapas. Se tem entre 30 e 59 anos e nunca se imunizou, a
pessoa deve receber 1 dose.
"As pessoas têm medo de
procurar uma unidade de saúde para poder vacinar os seus filhos, levar para
tomar vacina. Outra situação que nós observamos é que alguns municípios ainda
estão com dificuldades na digitação dos dados de vacinação", explicou
Andréa Marvão, coordenadora de Imunização do Amapá.
Andréa Marvão, chefe da Unidade de Imunobiológicos da SVS e coordenadora de Imunização no Amapá — Foto: Rede Amazônica/Reprodução |
Contraindicações
Pessoas com suspeita de sarampo,
imunocomprometidas, gestantes e crianças com menos de 6 meses não devem receber
a vacina.
Alérgicos a proteínas do leite de
vaca devem informar a condição ao profissional de saúde no posto de vacinação
para que recebam a dose feita sem esse componente.
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