Mandetta e Bolsonaro |
Ao frisar que a pandemia de
coronavírus não é uma “gripezinha”, o ministro da Saúde, Luiz Henrique
Mandetta, apresentou cenários possíveis para a doença no Brasil e advertiu o
presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e outros ministros, durante reunião tensa
neste sábado (28/03), que, se morrerem mil pessoas, será o correspondente à
queda de quatro Boeings. Depois, perguntou: “Estamos preparados para o pior
cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas? Com
transmissão ao vivo pela internet?”.
Conforme o jornal O Estado de S.
Paulo apurou, Mandetta fez um apelo para o presidente criar “um ambiente
favorável” para um pacto entre União, estados, municípios e setor privado para
todos agirem em conjunto, unificar as regras e medidas e seguir sempre
critérios científicos. Sugeriu, inclusive, a criação de uma central de
equipamentos e pessoal, para possibilitar o remanejamento de leitos,
respiradores e até médicos e enfermeiros de um estado a outro, rapidamente,
dependendo da demanda.
O ministro também pediu ao
presidente para não menosprezar a gravidade da situação nas suas manifestações
públicas e, por exemplo, não insistir em ir a um metrô ou um ônibus em São
Paulo, como chegou a aventar em entrevista coletiva. Mandetta deixou claro que,
se o presidente fizesse isso, seria obrigado a criticá-lo. E Bolsonaro rebateu
que, nesse caso, iria demiti-lo.
Durante a reunião, Mandetta
também disse que ele e sua equipe não vão pedir demissão no meio da crise, mas
estão prontos a sair depois dela, se for o caso. Ele, inclusive, se colocou à
disposição para assumir a função de “bode expiatório”, em caso de fracasso, e
se comprometeu a não capitalizar politicamente, em caso de sucesso. Disse que
não tem ambições políticas nem reivindica nenhuma posição de destaque.
Apesar desses momentos mais
tensos, ministros presentes consideraram que o resultado foi bom e que a
reunião serviu como um “freio de arrumação”, até porque, de outro lado, todos,
inclusive o próprio Mandetta, concordaram com a preocupação de Bolsonaro em preservar
ao máximo a economia, o funcionamento dos transportes e da infraestrutura em
geral.
Estavam presentes, além de
Bolsonaro e Mandetta, os ministros Fernando Azevedo (Defesa), Sergio Moro
(Justiça), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria do Governo), Braga Neto (Casa Civil),
Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e André Mendonça (AGU) e Antonio
Barra Torres (Anvisa). Um dos temas foi justamente o risco de uma enxurrada de
ações na Justiça, com Estados, municípios e União questionando medidas uns dos outros.
Esse, inclusive, foi tema da primeira reunião do sábado de Bolsonaro, que foi
com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.
Carreatas
Os que viram a entrevista
coletiva de Mandetta com sua equipe, após a reunião com o presidente, disseram
que, apesar de mais sutil, ou subliminar, ele basicamente repetiu o que disse
no Palácio da Alvorada. Em ambas, defendeu a uniformização das medidas de
isolamento, disse que alguns setores realmente precisam funcionar e que o vírus
não apenas mata pessoas como afeta todo o sistema de um país. Além disso, deu
um freio na versão de que a hidroxicloroquina é uma “panaceia” e vai curar a
doença a curto prazo.
Na coletiva, o ministro criticou
as carreatas pela reabertura do comércio. Os atos foram defendidos por
Bolsonaro, que chegou a compartilhar vídeos nas redes sociais. “Fazer movimento
assimétrico de efeito manada… Daqui a duas semanas, três semanas, os que falam
‘vamos fazer carreata’, vão ser os mesmos que ficarão em casa. Não é hora”,
disse Mandetta.
Na reunião de presidentes e
primeiros-ministros do G-20 na quinta-feira, Bolsonaro falou com entusiasmo do
uso do medicamento no combate ao coronavírus e dos prazos para a conclusão das
pesquisas, mas Mandetta é bem mais cauteloso. “Estamos na pista, mas os estudos
são muito incipientes”, disse o ministro.
Aliados de Mandetta no DEM e seus
assessores na Saúde garantem que ele não será desleal, não pede demissão e
sempre repete que não abandonará o barco em meio à tempestade, ou seja, quando
a pandemia começa a entrar na sua fase mais crítica. Neste sábado, os mortos já
chegaram a 114. Nesse momento, seu esforço é para ajustar o tom com o
presidente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, governadores e prefeito
ESTADÃO CONTEÚDO
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