Quem visita o Cemitério Municipal
de Marialva, na região de Maringá (norte do Paraná) às vezes pode ficar
assustado ao ouvir uma voz grave saindo de um túmulo. Trata-se de um homem de
45 anos que há mais de 11 mora, sozinho, em um túmulo abandonado do
cemitério."Tem um monte de gente que se assusta comigo", afirmou o
pedreiro Edson Carvalho ao jornalista Alexandre Gaioto, de O Diário , dando uma
boa gargalhada e tragando, com prazer, um cigarro cedido pelo fotógrafo da
equipe de reportagem.
Muitas pessoas que residem nas
cercanias do cemitério conhecem a história do Edson. "Ele é gente boa,
bacana, querido por todos", comentou a professora Maedani Moreira. "É
um homem muito engraçado e inteligente. Sou amigão dele: a gente sempre toma
umas pingas", orgulha-se o caminhoneiro Adriano.
Nem todos gostam
Mas nem todos os vivos aprovam da
presença de Edson no meio dos mortos, conforme atestou o jornalista Alexandre
Gaioto. O novo coordenador do cemitério, Alexandre Modesto, é um dos principais
críticos dessa permanência inusitada. Desde que assumiu o cargo há seis meses,
Modesto já autorizou duas notificações para que o morador abandonasse o
mausoléu.
"O fiscal vai lá pela manhã
e nunca encontra ele no mausoléu", afirma, queixando-se que o inquilino é
"baderneiro" e que aborda as pessoas, durante os enterros, para pedir
dinheiro. As declarações de Modesto, porém, não correspondem aos relatos dos
próprios funcionários do cemitério. "Edson não é baderneiro: é sossegado,
na dele", comenta um servidor municipal que trabalha na necrópole e não
quis ser identificado. "Nunca vi ele pedindo dinheiro em enterro",
ressalta outro funcionário público, que também preferiu não ter o nome
revelado.
O jornalista Alexandre Gaioto
acrescenta que é até difícil acreditar que aquele sujeito, vestindo camiseta
polo azul clara por baixo de uma blusa cinza e calça jeans azul e sapato marrom
com respingos de tinta branca, reside dentro de um mausoléu.
Barraco destruído por incêndio
Medindo um metro e setenta,
magro, e com uma barba bem feita num dos quatro banheiros do cemitério - que
ficam abertos 24 horas por dia -, Edson conta que veio parar no cemitério em
2006, depois que o local em que morava, um barraco de obra no bairro Novo
Horizonte, foi atingido por um incêndio. "Perdi tudo o que tinha",
relata ele sobre o RG, as roupas, o par de tênis, o colchão e uma coberta.
Fetichistas vão ao local à noite
À noite, quando Marialva está
dormindo, o cemitério ganha nunaces eróticas e sensuais. Casais fetichistas, na
calada da noite, pulam a mureta para realizar seus desejos, crentes de que as
únicas testemunhas da luxúria são as almas enterradas. E nem desconfiam que há
um voyeur dentro de um dos mausoléus, acompanhando todos os detalhes picantes
das relações. "Eu vejo tudo o que eles fazem", revela, com um jeitão
sacana, orgulhoso de sua moradia privilegiada.
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