Maria Eduarda de Lourdes Almeida, de 15 anos, morreu na Santa Casa de Barretos. |
Jovem
de 15 anos sofreu convulsões e atestado aponta morte por eclampsia. Hospital
diz que tinha vaga, mas médico manteve jovem em recuperação.
.
A família de uma adolescente que morreu após
17 horas em trabalho de parto acusa a Santa Casa de Barretos (SP) de
negligência médica. O bebê nasceu saudável, com 3,2 quilos, mas Maria Eduarda
de Lourdes Almeida, de 15 anos, entrou em coma após sucessivas convulsões e não
resistiu.
O atestado de óbito aponta
como causa da morte edema cerebral e doença hipertensiva da gestação, mais
conhecida como eclampsia. “Uma menina tão nova, nem soube que foi mãe. Não teve
o prazer de ver o filho”, diz a vendedora Angélica de Almeida Oliveira, irmã da
vítima.
A
Santa Casa de Barretos informou que havia leito disponível no Centro de Terapia
Intensiva (CTI), mas que o médico que fez o parto decidiu manter a paciente na
sala de recuperação. O hospital abriu uma sindicância interna para apurar a
conduta do médico e vai encaminhar o caso ao Ministério Público.
Família diz que jovem estava bem
Angélica conta que Maria Eduarda realizou todos os exames do pré-natal e nenhum deles apontou algum tipo de problema com ela ou o bebê. Na madrugada de domingo (15), já com 36 semanas completas de gestação, a adolescente entrou em trabalho de parto.
Angélica conta que Maria Eduarda realizou todos os exames do pré-natal e nenhum deles apontou algum tipo de problema com ela ou o bebê. Na madrugada de domingo (15), já com 36 semanas completas de gestação, a adolescente entrou em trabalho de parto.
“A gente foi para a Santa
Casa andando, rindo, brincando, ela estava bem. Ela não sentia nada, só as
contrações, porque já estava em trabalho de parto. Ela não teve alteração na
pressão. Nunca foi alta a pressão dela”, afirma.
A vendedora relembra que
Maria Eduarda deu entrada no hospital por volta de 5h e os médicos decidiram
aguardar o parto natural. No início da tarde, sentindo muitas dores, a jovem
chegou a pedir que fosse realizada uma cesárea.
“Eles falaram que tinha 10
centímetros [de dilatação], e ela começou a falar que não estava aguentando
mais. Ela começou a não falar coisa com coisa, a repuxar a perna e eu chamei o
médico. Ele disse que podia ser cansaço”, conta a irmã.
Por volta de 22h, ainda de
acordo com Angélica, a adolescente teve a primeira convulsão e a equipe decidiu
levá-la para o centro cirúrgico, onde foi realizada a cesárea. Nycollas nasceu
com uma infecção e foi internado. Maria Eduarda sofreu outras convulsões.
Sem leito de UTI
“O médico veio avisar que
ela tinha entrado em coma induzido e que precisava de uma UTI [Unidade de
Terapia Intensiva]. Só que a Santa Casa não tinha leito de UTI disponível. No
outro dia ela teve que ir para a sala de emergência”, relembra Angélica.
Segundo a irmã, Maria
Eduarda passou 30 horas em coma e respirando com a ajuda de aparelhos, enquanto
aguardava transferência para outro hospital que tivesse uma vaga em UTI. Ela
morreu na madrugada desta terça-feira (18).
“O pobre sofre um descaso
total. Se fosse particular, alguém que tivesse dinheiro para pagar um quarto,
acho que conseguiria. Existe UTI particular, mas a gente não tem dinheiro, não
tem condições. Ali era, simplesmente, uma sala de emergência”, reclama.
Negligência
A família registrou um
boletim de ocorrência sobre o caso. O advogado Edson Garcia afirma que já pediu
os prontuários referentes ao pré-natal e aos procedimentos realizados na Santa
Casa para entrar com um processo contra o hospital por negligência.
“Foi um parto muito
comprido. Apesar de a irmã ter solicitado para o profissional fazer uma interferência
cirúrgica, não foi feito, só no final do expediente. Intriga a maneira que se
operou: deixá-la 17 horas em trabalho de parto, uma criança, uma adolescente”,
diz.
Garcia destaca que o fato
de Maria Eduarda ter sido tratada em uma sala de emergência, quando precisava
de cuidados específicos de uma UTI também reforçam a acusação de descaso por
parte da Santa Casa.
“O leito poderia ter
evitado o dano maior, que foi o óbito dela. Ela saiu de um pós-cirúrgico,
precisava de um tratamento intensivo e não conseguiu por falta de vagas. O
responsável nesse caso é o Estado ou as pessoas que estão por trás daquela
instituição”, afirma.
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