Da Redação - Isabela Mercuri
Em 2003 foi estabelecido o dia 20 de
novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’, a partir da lei nº
10.639 sancionada pelo então Presidente Lula. Cento e quinze anos antes,
Princesa Izabel sancionava a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no
Brasil. Hoje, 126 anos depois da Lei Áurea e onze anos após a lei
10.639, a situação encontrada no Brasil ainda não é de igualdade ou
valorização do povo negro.
João Negrão, jornalista brasiliense de nascimento e cuiabano de coração, sabe bem o que é se sentir invisível. Ele afirma que os negros passam situações de racismo em que é praticamente ignorado em condições, lugares e posições que acreditam não ser dele.
Para lutar contra essa situação, ele militou nos movimentos sociais, sindical, estudantil, comunitário e negro desde os 16 anos de idade. João afirma que seus pais o ensinaram a valorizar a raça, a ter auto-estima elevada e a nunca se sentir inferior. João estudou muito e se tornou jornalista. O racismo, no entanto, nunca o deixou em paz.
Confira um de seus relatos:
“No primeiro caso, o da invisibilidade, posso citar alguns casos em que, na condição de jornalista, fui fazer algumas entrevistas e o entrevistado me ignorou o tempo todo, mesmo num ping-pong de mais de meia hora. Aconteceu no final da década de 90, quando trabalhando em A Gazeta fui entrevistar um dos coordenadores da campanha da fraternidade. Fui eu e o repórter-fotográfico Edson Rodrigues. Em mais de meia hora de conversa, o entrevistado não me viu. Eu fazia a pergunta e ele não me olhava e respondia para o Edson, que constrangido avisava que eu é que estava entrevistando e não ele. Mas o entrevistado não se dava conta da situação e até na hora de se despedir levou o Edson na porta e me esqueceu dentro da sala dele. Vi como uma situação engraçada, porque vi o quanto o cara era um imbecil. Ele voltou para a sala comigo dentro, fechou a porta, sentou-se à mesa, foi ler alguns papéis. Então eu sai enquanto ele estava com a cabeça baixa e nem me ouviu dizer "até logo".
João afirma, ainda, que os negros também são invisíveis em lojas, bares e restaurantes. “Os garçons não veem os clientes negros”.
Outra forma de racismo, no entanto, é quando o negro é visto. Segundo o jornalista, os negros são vistos quando acontece algum crime e imediatamente o primeiro negro que a polícia vê vira suspeito. Ele mesmo passou por uma situação:
“Aconteceu comigo várias vezes, mas a mais cruel foi quando fui confundido com um assaltante.Eu trabalhava numa cidadezinha a 20 km de Goiânia, chamada Guapó. Tinha 19 anos na época. Quando me preparava para vir embora, já dentro do ônibus, fui abordado por polícias que caçava um homem que assaltou uma casa. Imediatamente fui algemado e colocado no banco traseiro de um fusca da PM no meio de dois soldados. Dali da rodoviária da cidade até a delegacia fui apanhando. Na delegacia comecei a ser torturado para confessar o crime.
A minha sorte foi que um dos soldados sugeriu ao delegado que eu fosse levado até a vítima para ser reconhecido. Chegado à casa da vítima uma multidão cercou o fusca e quis me linchar. Foi quando a mulher veio e disse: "Sargento, não é este aí não. O ladrão é mais alto e branco." Fui libertado sem ao menos um pedido de desculpa, mas com um chute na bunda. Além do risco de vida, de toda a humilhação, acabei agredido mesmo depois de comprovada a minha inocência. Me pareceu que o policiais ficaram frustrados por não terem pego o assaltante.”
É por essas situações, e muitas outras que passou e que outros negros passaram, que João apoia o Dia da Consciência Negra. Ele afirma que esta é a oportunidade de debater a situação dos negros no Brasil, que são a maioria da população mas ainda sofrem racismo, preconceito e discriminação. “Entendendo o racismo como ideia de uma hierarquia entre os grupos humanos, com o pressuposto de que há uns superiores a outros. Já o preconceito como o julgamento prévio negativo dos negros, em geral estereótipos negativamente. E por esta razão, surge a discriminação, que despreza os nossos direitos”, explica.
João Negrão, jornalista brasiliense de nascimento e cuiabano de coração, sabe bem o que é se sentir invisível. Ele afirma que os negros passam situações de racismo em que é praticamente ignorado em condições, lugares e posições que acreditam não ser dele.
Para lutar contra essa situação, ele militou nos movimentos sociais, sindical, estudantil, comunitário e negro desde os 16 anos de idade. João afirma que seus pais o ensinaram a valorizar a raça, a ter auto-estima elevada e a nunca se sentir inferior. João estudou muito e se tornou jornalista. O racismo, no entanto, nunca o deixou em paz.
Confira um de seus relatos:
“No primeiro caso, o da invisibilidade, posso citar alguns casos em que, na condição de jornalista, fui fazer algumas entrevistas e o entrevistado me ignorou o tempo todo, mesmo num ping-pong de mais de meia hora. Aconteceu no final da década de 90, quando trabalhando em A Gazeta fui entrevistar um dos coordenadores da campanha da fraternidade. Fui eu e o repórter-fotográfico Edson Rodrigues. Em mais de meia hora de conversa, o entrevistado não me viu. Eu fazia a pergunta e ele não me olhava e respondia para o Edson, que constrangido avisava que eu é que estava entrevistando e não ele. Mas o entrevistado não se dava conta da situação e até na hora de se despedir levou o Edson na porta e me esqueceu dentro da sala dele. Vi como uma situação engraçada, porque vi o quanto o cara era um imbecil. Ele voltou para a sala comigo dentro, fechou a porta, sentou-se à mesa, foi ler alguns papéis. Então eu sai enquanto ele estava com a cabeça baixa e nem me ouviu dizer "até logo".
João afirma, ainda, que os negros também são invisíveis em lojas, bares e restaurantes. “Os garçons não veem os clientes negros”.
Outra forma de racismo, no entanto, é quando o negro é visto. Segundo o jornalista, os negros são vistos quando acontece algum crime e imediatamente o primeiro negro que a polícia vê vira suspeito. Ele mesmo passou por uma situação:
“Aconteceu comigo várias vezes, mas a mais cruel foi quando fui confundido com um assaltante.Eu trabalhava numa cidadezinha a 20 km de Goiânia, chamada Guapó. Tinha 19 anos na época. Quando me preparava para vir embora, já dentro do ônibus, fui abordado por polícias que caçava um homem que assaltou uma casa. Imediatamente fui algemado e colocado no banco traseiro de um fusca da PM no meio de dois soldados. Dali da rodoviária da cidade até a delegacia fui apanhando. Na delegacia comecei a ser torturado para confessar o crime.
A minha sorte foi que um dos soldados sugeriu ao delegado que eu fosse levado até a vítima para ser reconhecido. Chegado à casa da vítima uma multidão cercou o fusca e quis me linchar. Foi quando a mulher veio e disse: "Sargento, não é este aí não. O ladrão é mais alto e branco." Fui libertado sem ao menos um pedido de desculpa, mas com um chute na bunda. Além do risco de vida, de toda a humilhação, acabei agredido mesmo depois de comprovada a minha inocência. Me pareceu que o policiais ficaram frustrados por não terem pego o assaltante.”
É por essas situações, e muitas outras que passou e que outros negros passaram, que João apoia o Dia da Consciência Negra. Ele afirma que esta é a oportunidade de debater a situação dos negros no Brasil, que são a maioria da população mas ainda sofrem racismo, preconceito e discriminação. “Entendendo o racismo como ideia de uma hierarquia entre os grupos humanos, com o pressuposto de que há uns superiores a outros. Já o preconceito como o julgamento prévio negativo dos negros, em geral estereótipos negativamente. E por esta razão, surge a discriminação, que despreza os nossos direitos”, explica.
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