Documentação sobre história de antigo quilombo em Cuiabá é escassa.
Para alguns historiadores, porém, a existência da negra é questionável.
Do G1 MT
Estátua de Mãe Bonifácia no parque estadual em Cuiabá que leva o nome da curandeira negra.
(Foto: Renê Dióz/G1)
Uma negra alforriada que viveu em Cuiabá
no final do século 19 e que teve papel importante na luta dos escravos
daquela época. A história da personagem em questão, Mãe Bonifácia,
passou a ser relativamente conhecida pela população da capital
mato-grossense depois que o maior parque da cidade recebeu o nome dela.
Porém, a trajetória dessa mulher ainda é uma incógnita para muitos
pesquisadores.(Foto: Renê Dióz/G1)
Pesquisadores e historiadores procurados pelo G1 disseram que há pouco, ou quase nada, de registros sobre a vida dela. E afirmaram que a maior parte do que se sabe foi passada de geração para geração de forma oral, ou seja, sem registro documental. Conforme esses relatos, a negra viveu nas imediações do parque Mãe Bonifácia, mais precisamente na Avenida Lavapés, diz Aníbal Alencastro, geógrafo, pesquisador e autor de livros sobre Cuiabá.
“Por ser idosa e doente, ela deixou de ser procurada pelas suas habilidades como curandeira. E, quando passou a viver em um barraco no terreno localizado na frente de onde hoje fica o 44º Batalhão (de Infantaria Motorizada), ela ajudou escravos fugitivos”, conta.
De acordo com Alencastro, em frente à casa ficava um córrego. E Mãe Bonifácia orientava os escravos a seguirem pela água para que não pudessem ser farejados pelos cães dos capitães do mato, homens contratados para recapturar os negros fugitivos.
“Ela acolhia os escravos e os ajudava a chegar até a área do parque. Aquelas terras eram formadas por uma mata densa e, em seu interior, funcionava um quilombo. Daí a origem daquela região vir a se chamar, muito tempo depois, de Bairro Quilombo”, explica o estudioso.
O apelido de 'mãe' veio pelo fato de ela ter sido considerada muito bondosa para os negros. Mas, para Alencastro, ela foi mais do que isso. “A Mãe Bonifácia foi uma heroína para os escravos. Ainda mais naquela época, porque se arriscou muito ao ajudar quem queria sair da escravidão. Se fosse pega, provavelmente perderia a vida”, diz.
Polêmica
A existência de Mãe Bonifácia, no entanto, é questionada por alguns pesquisadores, como o historiador Pedro Carlos Nogueira Félix, que escreveu livros sobre a história de Mato Grosso. “Você acredita em Deus? Tem como provar? É mais ou menos o mesmo raciocínio. Na verdade, não tem documentos que comprovem que ela existiu. O que há é muita história oral sobre uma negra alforriada que sabia onde estavam escondidos negros fugitivos”, diz.
Para ele, entretanto, Mãe Bonifácia não pode ser considerada um mito porque foi transformada em um ser concreto, "com toda uma questão simbólica que envolve o período da luta contra a escravidão". “Existe no imaginário e traz alento, traz algo positivo sobre o que ela teria feito”, analisa Félix. Porém, o quilombo existiu, garante. “Tanto que o bairro onde fica o parque veio a se chamar Quilombo, tempos depois”.
Parque Mãe Bonifácia
Inaugurado em dezembro de 2000, o parque estadual Mãe Bonifácia é uma homenagem à escrava. É localizado em Cuiabá e tem 77 hectares de cerrado. No local, há pista para caminhada e corrida, mirante, trilha de areia, aparelhagem para exercícios físicos, parque infantil, concha acústica e abriga diversos eventos ao longo do ano.
(Foto: Marcos Bergamasco/Secom-MT)
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